É verdade que já se cometeram e se cometem muitas atrocidades em
nome de religiões. Mas é inegável também que os maiores avanços da humanidade
em direção à paz e à justiça tiveram motivação religiosa, assim como os
clamores atuais neste sentido. Por isso, essa questão do estado laico precisa
ser examinada com muito carinho.
Do que tenho lido sobre o assunto, transparece uma idéia ainda
muito fluida e imprecisa. Os que a propõem, evidentemente, querem fugir dos
horrores promovidos por nossa civilização ocidental chamada cristã, pelo estado
de Israel que se confessa judeu, pelos diversos grupos que pretendem ser fiéis
ao islã e, no caso específico do Brasil, por essa esquizofrenia autodenominada
frente parlamentar evangélica, só para citar os exemplos mais gritantes.
Entretanto, nestes casos, respeitáveis líderes das religiões em
questão têm sido enfáticos em afirmar que seus verdadeiros princípios não
justificam tais práticas, mas, ao contrário, as condenam. Com ênfase também,
criticam os homens de estado que lançam mão de símbolos e valores de suas
religiões, distorcendo-os, para convencer os pouco esclarecidos a apoiar seus
propósitos eminentemente políticos, encantados com o fascínio que sobre estes
exercem esses elementos.
Parece-me, portanto, que o problema não consiste no fato de as
organizações religiosas, cidadãs que são, com seus direitos e deveres cívicos, proponham-se
a aperfeiçoar o estado com seus valores, mas em que homens de estado metam-se a
manipular conceitos religiosos para impor seus propósitos em si mesmo
insustentáveis.
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