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Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?
Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)

domingo, 25 de outubro de 2015

A sua fé


O justo viverá pela sua fé.
Habacuque 2.4

Virou moda agora os dirigentes do que eles chamam de culto ditarem aos membros da congregação como devem se comportar: diga aleluia, diga amém, diga não sei o que para o irmão ao seu lado, repita isso, repita aquilo... Exageros à parte, os líderes religiosos sempre se preocuparam em orientar os fiéis, com mais ou menos ênfase, sobre o que devem pensar e como levar suas vidas. Geralmente, com uma intenção pastoral sadia; outras vezes, reconheçamos, com a explícita intenção de controlar o rebanho.

Exceto neste último caso, a orientação dos mais experientes é sempre saudável e necessária, mas os crentes nunca devem esquecer as palavras do profeta Habacuque: o justo viverá pela sua; não pela fé dos pastores, de alguma autoridade eclesiástica, teólogo, ou quem quer que seja, mas pela sua própria. Deve estar sempre habilitado a dar a razão dela, primeiro a Deus, depois a si próprio, e também aos que possam disso se beneficiar.

Isso pode parecer complicado, uma vez que essas palavras foram evocadas por Paulo em suas epístolas aos Romanos e aos Gálatas, e encontramos também em Hebreus, mas o recado que o apóstolo quis transmitir não foi exatamente o mesmo do profeta, e suas reflexões causam polêmica até hoje. Mas isso não deve preocupá-lo, pois o próprio Jesus assegurou que, se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, e que ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos: você mesmo. Mas, cuidado, pois pode não ser o caso de muitos dos que insistem em orientá-lo.

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Referências bíblicas:
Habacuque 2.4; Mateus 11.25; Lucas 10.21; João 7.17; Romanos 1.17; Gálatas 3.11; Hebreus 10.38. 

domingo, 18 de outubro de 2015

FÉ EM DEUS (ou Estado laico 7)


Apesar de ter sido uma constante na história, parece que ultimamente têm se multiplicado de modo assustador as atrocidades praticadas e as leis esdrúxulas propostas em nome de religiões. De tal modo que teóricos e ativistas políticos voltaram a dar ênfase ao conceito também antigo do estado laico.

Dedicamos seis postagens a refletir sobre o assunto. Verificamos que alguns consideram que religião é constituída por certas organizações, por certos rituais e símbolos, doutrinas ou costumes distintos adotados por apenas parcelas da população. Entretanto, essencial mesmo é a fé, aquilo que anima uma pessoa a viver, e mesmo a morrer. Por isso, a situação se torna dramática quando a fé de uma parcela conflita com a de outra; o estado se torna mesmo impotente para promover a paz.

Ainda bem que Deus é de fato o único elemento, se é que podemos designá-lo assim, essencial a qualquer religião que pretenda ser verdadeira. Pois, enquanto instituições, ritos, símbolos, doutrinas e costumes não passam de obras do homem, contaminados com suas enormes limitações e defeitos, Deus, ao contrário, é o próprio criador dos seres humanos, e também quem aperfeiçoa e corrige.

E não corrige e aperfeiçoa apenas as relações entre cidadãos, estados ou entre religiões; começa reparando as arestas entre criador e a própria criatura, passando a reconciliar cada indivíduo consigo mesmo; depois, com seus semelhantes, entre casais, pais e filhos, professor e aluno, empregador e empregado, governantes e governados...; com os céus, a terra, as plantas, os animais..., o universo.

sábado, 10 de outubro de 2015

Estado laico 6


Parece que existe um consenso mínimo sobre o tema: estado laico é aquele onde seus cidadão gozam da liberdade e do direito de ter uma religião ou nenhuma. Mas essa liberdade e esse direito são inerentes a qualquer estado democrático, e o adjetivo laico seria perfeitamente dispensável.

A questão tem evidentemente a ver com o relacionamento do estado com a religião a nível institucional. Neste aspecto, temos que deplorar os momentos em que aquele se associa com organizações religiosas para se beneficiarem mutuamente, em detrimento do bem comum. Mas não podemos minimizar os enormes benefícios que estas tem proporcionado à humanidade nos campos da saúde, da educação, em seu sentido mais amplo, e ao serviço social em todas suas formas, trazendo o próprio estado a reboque.

Do mesmo modo, tem a ver com a prática de rituais e a exposição de símbolos religiosos em espaços públicos. Também evidentemente, ao estado compete regulamentar o uso destes em prol do bem comum, mas nada justifica que sofram qualquer tipo de restrição simplesmente devido à sua natureza religiosa.

E costuma-se designar o religioso de crente, pois a fé ocupa lugar central em matéria de religiosidade. Mas nem todo o crente pertence a uma organização religiosa ou pratica algum ritual dessa natureza, embora chegue mesmo a incorporar seus valores. E se pensarmos a fé como aquilo que anima uma pessoa a viver, e mesmo a morrer, temos de aceitar que todo homem, todo cidadão possui algum tipo de fé, algum tipo de religião, que embala inclusive sua postura cívica. E o próprio Deus o inspira, sem se importar se acredita nisso ou não.

Afinal, pode-se escolher ter uma religião ou nenhuma; o que não se pode é escolher a Deus, pois, antes, ele mesmo já escolheu o homem (Leia "O que é Deus?").



domingo, 4 de outubro de 2015

Estado laico 5


O que dificulta o debate da questão, e impossibilita até mesmo o estabelecimento de qualquer norma a respeito, é que nem os homens públicos nem os religiosos têm uma idéia clara tanto sobre a natureza da religião quanto a do próprio estado, nem existe um consenso entre uns e outros. O que é muito natural e saudável; desastroso seria se fosse diferente.

A França talvez seja o país onde o assunto venha sendo mais amplamente considerado. Lá, numa ponta, há quem ache que, num estado laico, a religião deveria se restringir ao espaço privado de cada indivíduo ou comunidade religiosa, como igrejas, templos, sinagogas, mosteiros, terreiros...; não poderia ocupar espaços públicos, inclusive na imprensa; nem opinaria sobre questões de estado. Na outra ponta, está quem pensa que implicaria em um estado que facilitasse e mesmo promovesse o diálogo entre as religiões e entre elas e a sociedade, incentivando as expressões religiosas que contribuíssem para o bem estar social.

No Brasil, de acordo com uma campanha veiculada pela mídia, significaria simplesmente que o estado não tem religião oficial, de modo que cada cidadão seria livre para escolher uma ou nenhuma, mas não há clareza sobre no que isso implica na prática. Há, entretanto, os que pensam que essa liberdade não dá a ninguém o direito de opinar sobre a crença do outro, ainda que respeitosamente, nem de se meter em questões de estado com base em suas convicções religiosas. Visão que parece difícil de encaixar naquilo que temos aprendido sobre o que seria um regime verdadeiramente democrático.