Translate

Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?
Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Encontro no presépio


O DEUS da Criação 14

Eu afirmo a vocês que isto é verdade: 
quem não receber o Reino de Deus como uma criança
 nunca entrará nele.

Marcos 10.15
Os pastores, crentes simples, seguiram a indicação dos anjos. Os magos, crentes cientistas, seguiram a indicação da estrela. E os dois grupos acabaram supostamente se encontrando em volta de uma manjedoura para animais, bem diferente dos presépios que ornamentam os ambientes natalinos, tão perfumados e asseados que mais parecem mesmo com uma obra de arte.
Vale a pena reler com muita atenção diretamente na bíblia a história do caminho percorrido por eles, nos evangelhos de Mateus e Lucas, o que certamente você não faz há muito tempo
Os primeiros receberam uma indicação muito precisa de onde encontrar o menino e foram direto. Estavam tão maravilhados que nem repararam que o local era tão inadequado para um futuro rei.
Já os magos seguiram a estrela até Jerusalém. Pensando que ali encontrariam informações mais precisas, esqueceram a estrela e foram se informar; chegaram até o palácio real. Quebraram a cara e voltaram a seguir o astro, que estacionou finalmente sobre o local.
A bíblia não diz se os dois grupos tão diferentes chegaram a se encontrar. Mas, se aconteceu, certamente ambos estranharam a presença do outro num lugar tão impróprio aos sábios e familiar aos pastores. Pelo menos é o que parece ocorreria se fosse em nossos dias. Mas ali todos se tornam iguais, em valor, em dignidade, em sabedoria, embora continuem também sendo igualmente imperfeitos e fracos.
Estranho mesmo é a ausência de algum sacerdote, profeta, mestre, ou uma autoridade relacionada de alguma forma com o ministério da Palavra revelada. Na verdade estava ali no berço improvisado a própria Palavra em pessoa, cuja simples presença tornou supérfluo, dispensável todo esse exército de serventuários, mediadores.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Os anjos e a estrela


O DEUS da Criação 13

Pensemos agora no que o Natal nos tem a dizer, à luz do que refletimos na postagem anterior.
O que você vê na imagem acima?
Um anjo e uma estrela? Só? Tem certeza?
Com certeza, você vê também pelo menos um bebê em uma manjedoura, um casal, uns pastores de ovelhas, três magos... Porque lhe ensinaram isso desde criancinha.
Alguns pastores, mas nem todos, viram antes só os anjos, e os seguiram, pois, sendo judeus, já sabiam o que encontrariam. Os magos viram primeiro só a estrela, apenas os que estavam lá. Diz-se que estes vieram do Oriente e, como costumavam interagir com os sábios de Israel, tinham uma ideia antecipada do que ela anunciava, com certeza.
Os pastores representam os crentes simples de todos os tempos, que você também pode visualizar, pois já conviveu com muitos, com certeza. Os anjos personificam a fé deles, base de sua certeza de coisas que se esperam”.
Os magos representariam de certa forma os crentes cientistas, difícil de visualizar porque hoje não encontramos muitos por aí. A estrela materializaria seu “conhecimento tácito de coisas ainda não descobertas”.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A fé e o conhecimento tácito


O DEUS da Criação 12

Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.
Hebreus 11.1
Faz sentido se admitimos que podemos ter um
conhecimento tácito

de coisas ainda não descobertas.Polanyi p23
O autor da segunda frase acima não se refere diretamente ao que afirma a primeira, pois seu propósito é resolver questões relacionadas ao saber científico. Mas temos de admitir que ele está se referindo à mesma realidade ou a outra de semelhança impressionante, que nos faz pensar na possibilidade de uma salutar reaproximação da teologia com as ciências da natureza, em benefício dos que por séculos sofrem as consequências desse divórcio, aparentemente amigável, mas que muitas vezes gera graves contendas.
Polanyi dedicou grande parte de seus escritos a demonstrar com muitos exemplos que o ”conhecimento tácito de coisas ainda não descobertas” é não apenas possível mas desempenha verdadeiramente papel fundamental na atividade científica, sua área de atuação.
Quanto aos teólogos e simples crentes caberia considerar o verdadeiro papel que a fé desempenha na vida cristã. Ela é geralmente vista simplesmente como uma opção pessoal ou um desejo forte de muito pouca consistência; entretanto, biblicamente, trata-se de algo muito mais poderoso: de nossa confiança inabalável em um fundamento tão sólido capaz de assegurar nossos projetos mais preciosos. Nas últimas postagens temos feito referências a alguns de seus aspectos. Agora é hora de prestarmos a devida atenção aos exaustivos exemplos que Hebreus se dá ao trabalho de apresentar nos 39 versículos restantes do capítulo 11, para demonstrar o significado da afirmação introdutória do primeiro, transcrito acima. Encontramos aí talvez a mais completa explanação do que significaria “frutos dignos do arrependimento”, “frutos do espírito”, “boas obras” e outros sinônimos que encontramos no Novo Testamento: pura prática, única maneira que tanto o conhecimento tácito como a fé podem ser conquistados ou demostrados.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Que é o homem?


O DEUS da Criação 11
Que é o homem mortal para que te lembres dele?
e o filho do homem, para que o visites?
Pois pouco menor o fizeste do que os anjos,
e de glória e de honra o coroaste.
Salmos 8.4,5
Como seres humanos sempre nos consideramos a mais evoluída de todas as criaturas, sem a menor sombra de dúvida. Foi certamente pelo conhecimento tácito que descobrimos, pois, apesar de toda certeza, nunca soubemos explicar bem por quê. O salmista cria que Deus nos fizera assim. A teoria da evolução das espécies concluiu sermos os que tínhamos maiores chances de sobreviver sobre a face da terra, mas sabe-se hoje que os insetos são muitas vezes mais capacitados que nós nessa modalidade e que na verdade representamos na atualidade a maior ameaça à vida no planeta. Mas não descemos do salto. Considera-se também nossa inteligência o fator determinante e fomos denominados Hommo Sapiens, mas é exatamente nossa inteligência que está a ponto de botar tudo a perder
Já Polanyi, o autor que vimos comentando, considera ser nosso senso moral, ético, o que nos torna únicos, nossa possibilidade de escolher entre o bem e o mal, o certo e o errado. Percebemos aqui uma convergência com a conclusão do Elogio da Sabedoria que encontramos no livro bíblico de Jó (capítulo 28), onde sabedoria e entendimento são concebidos como um exercício não simplesmente racional, mas sobretudo ético:
Eis que o temor do Senhor é a sabedoria,
e o apartar-se do mal é o entendimento
.”
(Jó 28.28)
Considera também que os seres vivos mais evoluídos são passíveis de malformação, risco que aumenta à medida que sobem na escala evolutiva. Seria o caso dos animais, mais propensos às doenças e deficiências que as plantas. Os racionais, além disso, podem também cometer equívocos com relação aos seus conhecimentos. Inclui finalmente entre as deficiências ou malformações a prática do mal que afetam os que possuem senso moral e ocupam o nível mais elevado.
Fácil perceber a proximidade dessa percepção com o que afirma a bíblia sobre o livre arbítrio e o pecado. Inclusive pode auxiliar a teologia a superar seu equívoco secular ao localizar na dimensão animal do ser humano sua propensão para o mal, apesar de a narrativa da criação relatar que Deus tomou o cuidado de examinar cada etapa de sua obra e comprovar que era boa, confirmando a respeito da totalidade dela após concluída. Segundo a narrativa de Gênesis, foi apenas posteriormente que “por um (só) homem entrou o pecado no mundo, como afirmaria categoricamente o apóstolo em Romanos 5.12.
Nosso próximo assunto será A fé e a dimensão tácita, que poderá esclarecer um pouco mais sobre o que a teologia ganharia reaproximando-se das descobertas dos que esquadrinham as leis que regem as coisas criadas, e vice-versa, à semelhança dos sábios antigos.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Leis que regem o universo


O DEUS da Criação 10

Continuemos examinando o ensino bíblico na perspectiva da dimensão tácita, de acordo com o pensamento de Michael Polanyi. Para ele o universo seria formado por camadas de realidade agrupadas significativamente em pares de níveis superior e inferior, constituindo uma hierarquia, de modo que os princípios de cada nível operariam sob controle do nível logo acima. Mas é impossível alcançar os princípios organizacionais de nível superior a partir das leis que governam suas partes isoladamente. (The Tacit Dimension, pp 35-36)

A conclusão a que se chega é que estão fora de nosso alcance os princípios organizacionais do último nível das coisas criadas, que vão além das fronteiras do universo físico, ou seja, ultrapassam os limites reconhecidos pelas próprias ciências naturais até onde podem chegar com suas descobertas. Neste ponto é que entra a contribuição da teologia, com a atuação do Logos e da Sabedoria. Esta, por exemplo, fala de si em Provérbios 8.23-30:
Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio,
antes do começo da terra... então, eu estava com ele
e era seu arquiteto...”
Se a considerarmos então como possuidora dos princípios últimos que regem a criação como um todo, o Elogio da Sabedoria no capítulo 28 de Jó parece afirmar a mesma coisa que Polanyi; em resumo:
Donde, pois, vem a sabedoria,
e onde está o lugar do entendimento?
Está encoberta aos olhos de todo vivente
e oculta às aves do céu
.” (Jó 28.20,21)
Tiago nos mostra o caminho, em sua carta:
E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus,
que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.
(Tiago 1.5)
Sendo Deus um ser vivo como nós, muito mais do que um simples elemento que as ciências procuram mas não acham, ele interage conosco, nos procura e nos ensina suas leis, que podemos aprender de acordo com nossas limitações, assim como ensinamos nossas leis aos animais, que estão abaixo de nós na escala evolutiva, e eles aprendem, evidentemente também dentro de suas limitações.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A dimensão tácita


O DEUS da Criação 09
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder,
 como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem,
desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas.

Romanos 1.20
Seria o conhecimento tácito apenas uma forma a mais de saber, ao lado do científico e do teológico? Michael Polanyi, um cientista que dedicou desde cedo toda sua longa vida a observar as coisas criadas e produziu respeitadíssimos trabalhos nos campos da física, ciências sociais e economia e enveredou pela filosofia, pensa diferente. Para ele, “o pensamento tácito forma uma parte indispensável de todo conhecimento”. Suas ideias inovadoras a respeito encontram-se no livro The Tacit Dimension, publicado em 1966.
Parte do fato já sabido desde a antiguidade, de que “podemos saber mais do que podemos dizer” (we can know more than we can tell), o que não implica que não possamos pôr em prática ou transmitir de alguma forma além do que em simples palavras; isto é, só mesmo praticando, executando. O termo mais apropriado seria interagindo, no caso de coisas inanimadas, e convivendo, tratando-se de seres vivos, animais ou humanos, pessoas, nossos semelhantes. Consequentemente, como simples crentes ou teólogos, poderíamos concluir ser verdade também com relação àquele mediante cuja imagem e semelhança fomos criados: não haveria outro meio de conhecer ou apresentar adequadamente a Deus a não ser pela vivência. De modo que a bíblia deve ser examinada como uma coletânea de testemunhos a respeito dessa convivência, mas muitos a tomam equivocadamente como um simples discurso pouco fundamentando sobre a divindade sem muito valor científico.
Este fato nos leva muitas vezes a questionar o que outros pregam a respeito do criador que não está de acordo com nossa própria experiência. Foi o caso de Jó, que confrontou as palavras dos sábios porque contradiziam o que via com seus próprios olhos e sentia em seu próprio corpo. Certamente seria também o caso das crianças e pessoas sem instrução, que ignoram na prática a opinião dos sábios e instruídos, por confiarem mais na própria vivência do que em palavras ocas, principalmente quando estes negam seus complicados argumentos com os frutos que produzem.
É impressionante o quão perto pode chegar do ensino bíblico um cientista que perscruta as coisas criadas com o propósito de aprender e não de simplesmente tirar proveito delas. Confirmam-se as palavras do apóstolo. É o que continuaremos examinando.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Sabedoria e ciência

O DEUS da Criação 08
Enganosa é a palavra das criaturas humanas, que é capaz de confessar com a boca e negar com suas ações. Deus faz falando e fala fazendo, para ele falar e fazer são a mesma coisa, o que acontece é exatamente o que ele fala. Se podemos alcançar a verdade sobre uma pessoa pelos seus feitos, com muito mais razão nos será dado ver o próprio criador.
Uma maneira segura de superar as armadilhas da linguagem humana é observar a divindade em ação na natureza, que é viva e sábia, pois executa com perfeição as ordenanças divinas. A condição para que isso ocorra é que o observemos com o desejo sincero de inteirar-se de como ele faz e do que compete a nós fazermos, com o firme propósito de integrar nossas próprias ações nessa obra única e perfeita, a Criação, seguindo a orientação de Tiago:
se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus,
e ele a dará porque é generoso e dá com bondade a todos.
Porém peçam com fé e não duvidem de modo nenhum,
pois quem duvida é como as ondas do mar,
que o vento leva de um lado para o outro.
...pois não tem firmeza e nunca sabe o que deve fazer.

Tiago 1:5-8
Um bom caminho é imitar o exemplo de Jó: ser sincero, apresentar ao Eterno as dúvidas que de fato procedam de nosso coração, sem receios e sem querer agradá-lo com perguntas que achamos ele gostaria de ouvir. Não esperemos conhecer assim os grandes mistérios da Criação, muito menos de seu criador, mas o suficiente para procedermos bem em nosso dia-a-dia.
As ciências naturais podem nos ajudar nisso, mas enquanto seu propósito se limitar a descobrir as leis que regem a natureza para dominá-las, com o simples propósito de tirar proveito, continuará impotente diante de problemas como o da fome e das guerras.
Von Rad já dizia há 50 anos, meio século passado, sobre a Sabedoria em Israel:
O que o sábio exemplar desejava alcançar não era a razão da ciência moderna, que impõe suas leis e dispõe soberanamente da matéria morta da natureza, mas uma razão compreensiva, uma intuição da verdade que provém do mundo e questiona o homem.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A história de Antônio


Deus da criação 7

Antônio não havia estudado música, mas tirava um sonzinho legal de sua viola. Dava até uma de compositor e poeta:
O perigo está aqui. O perigo está acola.
O perigo onde anda ninguém pode imagina
r.”
Prestava serviço nos sítios da região onde morava. Tinha muitas outras habilidades; entre elas, a de exímio pedreiro. Mesmo sem ter sido alfabetizado, calculava de cabeça e informava a quantidade de tijolos, areia e cimento que seria necessário para levantar e emboçar determinada parede antes mesmo que o patrão concluísse suas contas no papel. Entusiasmados, seus amigos aconselhavam:
- Você precisa frequentar a escola, Antônio!
Ele foi.
Passado um tempo, soube-se que abandonara as aulas.
- Por que, Antônio?
- Não entendia as contas do papel e estava esquecendo as das ideias!
Antônio possuía um conhecimento tácito sobre cálculos, que é pessoal e impossível de explicitar em palavras ou símbolos, traduzir em teorias - por isso só se adquire e se demonstra na prática; diferente daquele que nos ensinaram na escola por meio de discursos e de textos.
Este tipo de conhecimento está muito mais presente no cotidiano das pessoas do que conseguimos perceber. É mais notável entre as crianças que, mesmo antes de conhecer as palavras, faladas, escritas, ou qualquer símbolo com significado, aprendem uma infinidade de procedimentos, os mais complicados e a maioria dos que lhe servirão por toda a vida. É também como se adquire as habilidades indispensáveis no exercício das profissões.
Entretanto, por mais importante que seja, o conhecimento adquirido por meio das teorias ou _logias, é um processo bem mais cansativo e requer muito estudo prévio, além de sujeito a equívocos. Não está ao alcance de crianças, sendo muito pouco compreendido pelas pessoas com pouca instrução. Quais as consequências disso para nossa fé, nossas teologias e para o logos divino? É o desafio que esta série de postagens pretende propor aos seus leitores, crentes simples ou teólogos.
Segue: Sabedoria e ciência

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Ciência e Teologia

O DEUS da criação - 06

            
            Esta é uma reflexão teórica. Vai ser chata. Compensaremos na próxima postagem.
Toda teologia é uma teoria, mas o teo_ daquela deriva do termo theós, que significa deus em grego, enquanto o teo_ da segunda vem de théa, mostra ou demonstração, no mesmo idioma. O que não impediu, entretanto, que o renomado cientista Stephen Hawking concluísse seu livro Uma Breve História do Tempo com esta afirmação:
...se de fato descobrirmos uma teoria completa... será o triunfo completo da razão humana – pois, então conheceremos a mente de Deus.
Já o sufixo _logia vem de lógos, também do grego e significa discurso fundamentado -  semelhante a demonstração, tanto na palavra teologia como em psicologia, fonologia, neurologia etc. Não passam de palavras, que podem ser enganosas como advertiu Tiago em sua carta. Mas tudo muda se atentarmos para o fato de que, na teologia cristã, o termo logos refere-se a algo muito mais amplo do que um simples discurso sobre coisas; ao contrário, as precede, é o que de fato as faz existir. A introdução ao evangelho de João diz tudo:
Antes de ser criado o mundo, o logos já existia.
Ele estava com Deus e era Deus.
 Desde o princípio, o
logos estava com Deus.
Por meio do
logos, Deus fez todas as coisas.
E nada do que existe foi feito sem ele.

João 1:1-3
Essa distinção faz grande diferença para a prática teológica, pois, enquanto se limitar a um discurso, ainda que fundamentado, pode cometer erros.
           Mas, compreenderemos isso melhor depois de conhecer a História de Antônio, na próxima postagem. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Deus fala fazendo


O DEUS da Criação 05

Antes eu te conhecia só por ouvir falar,
mas agora eu te vejo com meus próprios olhos.

Jó 42.5
... pois vocês sabem que nós, os que ensinamos,
seremos julgados com mais rigor do que os outros.
Todos nós sempre cometemos erros.

Tiago 3.1-2
Não obstante suas semelhanças, os dois diálogos mantidos por Deus com Jó e Moisés, mencionados na última postagem, apresentam diferenças muito importantes. Por exemplo, fora Deus quem tomara a iniciativa de falar a Moisés e, através dele a Israel e a todxs nós; enquanto Jó foi quem insistiu em falar-lhe e cobrar dele uma resposta.
Além disso, fez-se ouvir por este através de um fenômeno bastante ordinário: do meio de um redemoinho (Jó 38.1; 40.6). Não necessitou de nenhum milagre, pois sua voz foi facilmente identificada por seu servo, como uma ovelha que conhece a de seu pastor. Ele a aguardava mesmo com ansiedade, cheio de dúvidas, porque o que ouvia dos sábios e entendidos não batia com sua própria experiência e com o que seus olhos atentos observavam ao redor. Também nenhuma ordem foi dada, pois basta ver seu Senhor em ação, para o servo fiel saber o que deve fazer. Neste caso, o criador se mostrou diretamente em ação, de modo que o então interlocutor o viu com seus próprios olhos.
Ao passo que, a Moisés, O Senhor sinalizou sua presença num fenômeno extraordinário, num arbusto que ardia e não se consumia, e foi através de atos miraculosos que se fez presente na vida do povo escolhido, através dos séculos. Ordenava-lhe também a prática de ações, estas muito claras, embora nem sempre bem entendidas ou acatadas. Revelava-se por meio de palavras, bem como de ritos, teofanias, sinais e outras formas, de modo que os ouvintes o conheciam por ouvir falar.
Entretanto, a palavra pode ser enganosa, como todas as mídias, e a própria bíblia está repleta de advertências contra esse perigo. Tiago, em toda sua Carta, deu especial atenção ao fato: além dos falsos mestres e dos mal-intencionados, até os chamados sempre cometem erros. Chegou mesmo a propor um desafio:
Existe entre vocês alguém que seja sábio e inteligente?
Pois então que prove isso pelo seu bom comportamento
e pelas suas ações, ...

Tiago 3.13


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

O Deus que faz


O DEUS da Criação - 04
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e,
 sem ele, nada do que foi feito se fez.

João 1:1-3
Os sábios de Israel, responsáveis pelo livro de Jó, em comum com seus pares de todo antigo Oriente, costumavam investigar em todos os campos do conhecimento humano, que na época não passava de um único conglomerado permanentemente integrado enriquecendo-se como apenas um. Empenhavam-se em perceber a divindade não só na história de Israel, mas também e ao mesmo tempo por meio das coisas que foram criadas. Com o passar dos séculos, as investigações se especializaram, separando-se umas das outras, desintegrando-se, tomando cada uma o seu rumo. Talvez as que mais tenham se distanciado tenham sido mesmo a Física e a Teologia. Perdemos muito com isso.
Tanto a Moisés quanto a Jó, Deus se fez conhecido pelo que faz. No primeiro caso, pelo que fez por Israel que, soubemos depois, foi por todxs nós; no segundo, pelo que faz pela criação. Observemos que o mesmo Cristo está no centro tanto da ação divina iniciada em Abrão, quanto daquela que começou muito antes.
O mesmo objetivo dessas duas formas de se apresentar é de que as pessoas integrem suas próprias ações nessa obra única, pois
Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.
Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército.
Gênesis 1.31-2.1

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Leis que regem os céus

O DEUS da Criação 03

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder,
 como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem,
desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas.

Romanos 1:20
Afinal, o que falou Deus a Jó? Só lendo Jó 38.1-41.34
Quem esperaria que, para contestar um questionamento ético crucial, o Eterno viesse com uma competente aula de Física, Biologia, Geologia, Meteorologia, Astrologia e outras ciências?
Para entender, leia Jó 28 – Elogio da Sabedoria.
Mas onde pode ser achada a sabedoria? Em que lugar está a inteligência?
Os seres humanos não conhecem o valor da sabedoria e não a encontram neste mundo.

Jó 28:12-13
Só Deus conhece o caminho; só ele sabe onde está a sabedoria...;
ele vê tudo o que acontece aqui na terra.
Quando Deus regulou a força dos ventos e marcou o tamanho do mar
quando decidiu onde a chuva devia cair e por onde a tempestade devia passar
foi então que ele viu a sabedoria, e a examinou, e aprovou.
E ele disse aos seres humanos:
"Para ser sábio, é preciso temer o Senhor;
 para ter compreensão, é necessário afastar-se do mal."

Jó 28:23-28
Alguns séculos antes, Deus também já falara pessoalmente com outro servo seu, Moisés. Revelou-se como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Discorreu sobre o que havia realizado na história daqueles patriarcas e de seus descendentes e o que tinha preparado para o futuro, entregando-lhes uma lei muito específica para nortear seu comportamento dali por diante. A Jó, revelou-se como o Deus da criação, descrevendo como a fez e o desafiando a observar bem como ele a mantém, segundo as leis que governam o céu, que devem ser aplicadas na terra.


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Deus fala a Jó

O DEUS da Criação - 2
Depois disso, do meio da tempestade, o Senhor deu a Jó a seguinte resposta:...
Jó 38:1

A história de Jó é bem conhecida. No auge de sua profunda angústia, acorreram quatro amigos, sábios e instruídos, para socorrê-lo. Seus longos discursos de nada adiantaram, pois sua própria experiência e o que acontecia ao seu redor contradiziam o que afirmavam sobre Deus. Inconformado, resolveu dispensá-los e apresentar ao próprio suas queixas, e tudo fez para dele arrancar uma resposta. Ao contrário de Adão que, ao ouvir seus passos no jardim, escondeu-se com medo.
O que ouviu foi uma longa e severa exortação, que revelavam coisas infinitamente maiores do que esperava. Acompanhadas de um desafio:
Você conhece as leis que governam o céu
e sabe como devem ser aplicadas na terra?
A reação final do queixoso diz tudo:
Tu me perguntaste como me atrevi a pôr em dúvida a tua sabedoria,
visto que sou tão ignorante.
É que eu falei de coisas que eu não compreendia,
coisas que eram maravilhosas demais para mim e que eu não podia entender.
Tu me mandaste escutar o que estavas dizendo e responder as tuas perguntas.
Antes eu te conhecia só por ouvir falar,
mas agora eu te vejo com meus próprios olhos.

Jó 42.3-5
Estas palavras nos dão uma ideia ainda que aproximada sobre a que se referiu Jesus quando orou:
- Ó Pai Senhor do céu e da terra,
 eu te agradeço porque tens mostrado às pessoas sem instrução
 aquilo que escondestes dos sábios e instruídos!

Mateus 11.25


Mas afinal, o que falou Deus? A seguir: Leis que regem os céus.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

"O DEUS de todxs nós"


O DEUS da Criação 01- Introdução



- Ó Pai Senhor do céu e da terra, eu te agradeço porque tens mostrado às pessoas sem instrução  aquilo que escondestes dos sábios e instruídos! 
Mateus 11.25


A série que iniciamos hoje complementa o livro O DEUS de todxs nós, que reflete a partir das escrituras sagradas e da experiência do autor sobre como o criador se relaciona com cada uma de todas as criaturas humanas, sem exceção.

Nas reflexões transparece de modo eloquente e inequívoca a profundidade e a propriedade da predileção divina pelos humildes, de tal modo que nos impelem a unir nossas vozes à de Jesus nesta ação de graças transcrita acima.

Não é necessário prestar muita atenção para verificar que os sábios e instruídos de hoje e de todos os tempos estiveram sempre empenhados mesmo foi em aprimorar suas máquinas de guerra e seus aparelhos de controle sobre as pessoais, em buscar e assegurar um patamar que consideram mais elevado que os demais sob todos os pontos de vista. Para não irmos muito longe, basta mencionar  aqueles que se dedicam à produção de alimentos, remédios e outros recursos para combater enfermidades; longe de saciar os famintos e minorar a aflição dos que mais sofrem, suas preocupações são antes agregar valor, gerar lucro, agravando ainda mais essas agressões aos semelhantes.

Por outro lado, percebemos serem os humildes que se empenham em socorrer o próximo em todas as circunstâncias, empregando nisso todos seus limitados conhecimentos. É impossível quantificar o impacto deste procedimento na história das criaturas humanas, pois é praticado a granel e anonimamente, sem a preocupação de serem mesmo quantificadas, mas é fácil chegar à conclusão de que é “graças” a ele que ainda temos alguma paz no mundo, no sentido mais amplo do termo.

As expressões sábios e instruídos bem como pessoas sem instrução são imprecisas, à semelhança das empregadas neste versículo por outras versões bíblicas, mas os que conhecem a voz do mestre percebem claramente em que grupo se enquadram.

A seguir verificaremos o caso de Jó.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O inverno também acaba

          As variações do clima político costumam assemelhar-se ao ciclo das quatro estações do ano, por coincidência ou porque os dois fenômenos obedecem com suas especificidades às mesmas leis que regem as coisas criadas em sua totalidade, o mesmo sistema.
O inverno, que mais uma vez se retira, é certamente a mais desagradável das quatro. O frio e a baixa umidade do ar, que em si já são um grande transtorno, tornam as pessoas vulneráveis a uma série de enfermidades. Tem-se a impressão que na superfície da terra tudo começa a morrer. Custa a passar, cada um enfrenta como pode, na certeza de que logo virá a primavera e depois o verão. Mas o verdadeiro culpado por essa situação é mesmo o outono, quando o sol teimou em levantar-se cada dia mais tarde e a recolher-se cada vez mais cedo, inclinando ainda mais sua trajetória, de modo a não conseguir clarear e aquecer adequadamente o planeta.
Foi exatamente com a chegada do inverno que o astro rei começou a tornar sua jornada cada dia mais longa e a ir se aprumando no céu, de modo que no final do período a superfície pudesse estar bem mais iluminada e o clima bem mais ameno, digno da estação que viria em seguida. Mas foi no subsolo onde houve trabalho bem mais intenso, onde a vida se preparava freneticamente para eclodir: a minhoca e outros bichinhos não cansavam de processar, discretamente o material orgânico ali depositado, possibilitando que germinassem as sementes e brotinhos enterrados. Onde o frio foi mais intenso e caiu neve, mesmo antes desta dissipar-se, o fruto daquele labor já começara com sua pujança a ornamentar a primavera.
No ambiente político cujo desconforto começou bem mais cedo e parece que não vai acabar tão cedo, as reações das pessoas são mais ou menos as mesmas. Têm aquelas que estranhamente se gabam de preferir o frio e as noites mais longas, como aquelas que fazem questão de alardear gostarem do que estão fazendo com nosso país. Mas não escapam aos olhos atentos aquelas que discretamente preparam tempos mais agradáveis, que certamente serão ainda muito mais duradouros do que este infverno sem fim que, apesar de tudo, nos possibilitou ver com mais clareza o que verdadeiramente se passa na superfície.





segunda-feira, 17 de junho de 2019

No rastro dos Comuns


Os primeiros cristãos encararam um período extremamente conturbado política, social e economicamente, repartindo os seus bens, e conseguindo ainda assim acumular para a igreja, até o final do terceiro século, um patrimônio considerável. Mesmo vivendo em constante tensão com o Império Romano e encarando problemas internos de toda ordem.
Já no século V, entretanto, quando já contava com total apoio do governo, os chefes, aqueles que no início foram encarregados de distribuir os bens comuns, passaram a reter para si a metade dos rendimentos totais, um quarto para os poucos bispos e outro para a legião de padres; a outra metade era dividida igualmente entre a manutenção da instituição e o socorro dos pobres. E, para encurtar, no término do século dezoito, a igreja possuiria só na França um quinto do território nacional, situação que começou a mudar com o advento da Revolução Francesa.
Felizmente, a trajetória da Igreja não foi tão simples. Há notícias de comunidades que não seguiram a corrente dominante, ou dela se afastaram mais tarde; algumas adotaram partilha de seus bens para encarar suas adversidades, âs quais talvez não tenhamos prestado a devida atenção. Mesmo muitas que seguiram os passos de Roma adotaram essa prática com muita eficiência: são exemplos algumas ordens religiosas e mosteiros.
A História do Brasil registra também algumas iniciativas inspiradoras que merecem ser reexaminadas com mais cuidado; dentre elas, destacam-se a dos Sete Povos das Missões que, na verdade, foram bem mais que sete, e representam talvez a página mais bela, como também mais triste de nosso currículo comum. Há que se observar a trajetória dos quilombos, que ainda hoje exibem seus feitos heroicos e foram igualmente mais numerosos e complexos do que se conta. E Canudos, não passou mesmo de uma experiência exótica, como nos narraram seus destruidores?