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Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?
Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

DIA DO IDOSO

 Publicado no Jornal A OPINIÃO
PEDRO OSÓRIO (RS)
31 setembro de 2021

Até meados do século passado haviam tão pouco idosos no mundo que eram praticamente invisíveis ou simplesmente ignorados pela população em geral; os mais maltratados pelos anos eram simplesmente escondidos.

Com uma pequena melhora na qualidade de vida, eles cresceram em número e em idade, mas contraditoriamente, seus sofrimentos também aumentaram, tornaram-se um enorme problema. Ficou impossível ignorá-los.

Assim, 1º de outubro foi declarado em 1991 DIA INTERNACIONAL DO IDOSO pela Organização das Nações Unidas. Posteriormente, 1999 foi proclamado Ano Internacional do Idoso, com o objetivo lançar atenções para o reconhecimento do envelhecimento demográfico da humanidade, a fim de criar compromissos para o amadurecendo de atitudes e potencialidades em empreendimentos sociais, econômicos, culturais e espirituais, criando condições para a paz e o desenvolvimento no século seguinte” – o nosso. (Wikipedia).

O Brasil tomou uma série de outras providências nessa direção, como a promulgação do Estatuto do Idoso intencionalmente em 1º de outubro de 2003, e fazendo dessa data nosso DIA NACIONAL DO IDOSO.

A pessoa idosa, o velho, carrega consigo aspectos positivos e negativos, que não lhe são fornecidos num pacote pronto: ela os vai coletando aos poucos na caminhada que se chama envelhecimento; parte tem origem em suas próprias escolhas, uma grande parcela lhe é fornecida pelas circunstâncias, por indivíduos e pela sociedade.

Somos todos coletores e fornecedores, envolve cada decisão, cada atitude que tomamos, as quais são determinantes do futuro que enfrentaremos individual e socialmente. Devemos estar atentos 365 dias por ano enquanto envelhecemos.

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segunda-feira, 26 de julho de 2021

Velhice comum X velhice de cada um

 Envelhecimento 09


Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei:
Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.
Lucas 17.7

O domínio do tudo-em-comum é regido pelas leis naturais, onde não existem fronteiras rígidas de espécie alguma. Não existe distinção entre o público e o privado, consequentemente: sem separação entre o meu, o teu e o dele. Nenhum sinal que determine a passagem de uma idade para outra. Como ninguém é considerado grande pelo valor do salário que recebe, mas pela magnitude do serviço que realmente presta, as crianças é que ocupam os primeiros lugares: os que vivem para servir permanecem como elas a vida toda. Também não existe um marco para determinar o ingresso na velhice, sendo sabido que o processo de envelhecimento começa a rigor já ao nascer. Todos têm o direito à vida plena.

Separações é uma invenção dos humanos, meio forçada, porque certos territórios são impossíveis de determinar se pertencem a este ou àquele. Sendo de todos e de ninguém, foram declarados espaços públicos e criado o poder público para tomar conta deles, embora não se consiga precisar onde começam e onde terminam. Além disso, os brasileiros e brasileiras tornam-se maiores de idade perante a lei ao completarem exatamente dezoito anos; perdem alguns direitos e ganham deveres. Ao completarem sessenta, são declarados idosos; ganham principalmente direitos e prioridades. Essas leis devem ser obedecidas por todos os cidadãos, que nem sempre o fazem. Embora existam ainda outras dedicadas a convencê-los a fazer, pelo bem e pelo mal; somos testemunhas da ineficácia das mesmas. E é amplamente reconhecido que, mesmo se fossem eficazes, nunca seriam suficientes para suprir os direitos reconhecidos; a desproporção costuma ser infinitamente grande.

O resultado é que, no mundo das separações, cada pessoa vai acumulando desde que nasce mais perdas do que ganhos, e também em proporções diferentes: cada uma carrega isoladamente sua própria velhice. Entretanto, enquanto essas leis, impostas de fora, coercitivas, nem conseguem garantir que cada um cumpra o seu dever, as naturais, escritas no coração, acatadas voluntariamente, que começam exatamente onde o dever acaba, têm o poder de produzir benefícios multiplicados, suficientes para preencher a vida de quem as acata, dos demais necessitados, e também para suprir a falta dos que se omitem.

A vida real

Não nascemos para viver num mundo artificial, inventado pelos homens, cuja leis não conseguem proporcionar vida minimamente decente para todos e cada um. Nascemos num mundo real, a ser regido por suas leis naturais cujas possibilidades vão muito além do que necessitamos, do que esperamos ou que consigamos imaginar para a vida de cada um ou de todos juntos, em todos os tempos e lugares.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Velhice comum

 Envelhecimento 08

Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas;
e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei;
sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.
Isaías 55.1

Vocês receberam de graça; deem também de graça.
Mateus 10.8

Quando você nasceu, quanto pagou por seu primeiro gole de leite, pelo segundo, pelo terceiro...? Pela roupinha que vestiu? Pelo berço... e tudo o mais, até seu primeiro emprego? Até lá, quanto recebeu por ajudar na cozinha, cuidar do irmãozinho menor, varrer a casa...? Nada, e nada; tudo de graça, pura graça. Você era uma criança, vivia segundo as leis do Reino dos Céus, que ainda teimam em reger algumas relações, naturalmente:

...dos tais é o reino dos céus.
Mateus 19.14 / Marcos 10.14 / Lucas 18.16

Nesse domínio, as palavras dinheiro e preço são desconhecidas. Já neste mundo, sua infância acaba quando encontra alguém disposto a lhe dar um dinheiro pelo que lhe fizer, de acordo com as leis dos reinos deste mundo. Segundo elas, você se tornou produtivo; seu trabalho se tornou uma mercadoria e terá um preço a ser pago conforme suas regras. Assim será também com relação às coisas mais essenciais que necessita para continuar vivendo e trabalhando: comprará seu alimento, suas roupas, sua moradia, suas ferramentas, seus conhecimentos, seus prazeres...

Essas duas palavrinhas fazem parte de uma verdadeira quadrilha de outras semelhantes, estranhas à natureza e nocivas a toda sorte de vida. Para que a humanidade não entre de vez em colapso, costumam ser ignoradas em certas circunstâncias, como no caso da infância e algumas outras. Por exemplo: quanto você pagou para construir a calçada sobre a qual caminha todos os dias, ou a ruas e as estradas por onde dirige? E os prédios onde funcionam sua escola, o hospital a que recorre, a usina que gera a eletricidade que usa...? Do mesmo modo, tudo o que você faz de bom hoje, cobrando ou de graça, beneficiará as próximas gerações, que também não lhe pagarão nada por isso.

Está claro que o trabalho que você realiza gera muito mais benefícios vitais do que pode comprar o salário que recebe, mesmo descontando os inúteis lucros dos que o exploram. Até o que você realiza sem receber pagamento em troca é de uma utilidade imensa, impossível mesmo até de quantificar. Talvez nem tenha ideia de quantas vidas se desgastaram, recebendo pouco ou nada em troca, para você poder contar hoje com os benefícios de que usufrui. 

Mas sabe que qualquer serviço que preste hoje beneficia os que já envelheceram; com certeza beneficiará muito mais os velhos de amanhã, você entre eles, mas age como se nem soubesse que o valor de seu trabalho é muito maior do que alguém esteja disposto a pagar por ele: é igual à grandeza dos benefícios que gera. Sua própria velhice poderá tornar-se bem mais leve e rica se focar algum esforço nessa direção durante a vida toda.

Velhice comum X velhice de cada um

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Para além do cobertor público

 

Envelhecimento 07

Na casa do meu Pai há muitos quartos,
e eu vou preparar um lugar para vocês.
Se não fosse assim, eu já lhes teria dito.
...E vocês conhecem o caminho para o lugar aonde eu vou.

João 14.2-4

As leis elaboradas pelo poder público determinam os direitos do cidadão e, para cobri-los, estabelecem também para eles em contrapartida os deveres chamados legais, para prover o material com que será tecido o cobertor público, usualmente curto e remendado; descumpri-los implica em punições, mas observá-los nem sempre resulta em benefício equivalente.

Entretanto, para cobrir seus direitos chamados naturais reconhecidos não costumam exigir deles deveres que estejam à altura, igualmente individuais, de cada um, e universais, de todos. Estes contam-se entre as leis chamadas naturais, escritas na natureza e nas consciências, para todo ser criado; descumpri-los não implica em punições, mas em consequências, nem sempre proporcionais; observá-los resulta infalivelmente em benefícios, multiplicados: garantia de uma cobertura ampla e sem remendos. Esse é o poder comum, muito para além do público.

Foi a ele que a igreja primitiva recorreu para alcançar a grande quantidade de necessitados que havia na época, e mais:

Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum.
Atos 4.32

Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.
Atos 2.44

Prestando a devida atenção a esses dois textos descobrimos que a comunidade cristã primitiva não tinha em comum apenas seus bens. Com certeza, esse aspecto não representava o fundamento de seu poder, mas apenas uma consequência dos demais: era um o coração e a alma; estavam juntos.

O coração, fonte da vontade, dos desejos e principalmente das ações; independe de um legislativo que determine o que deve ou não ser feito. A alma, ou seja, a vida, com suas dores, tristezas, fracassos, vitórias, alegrias, amores... dos outros é a de todos e de cada um. Juntos, mais fortes, sem a necessidade de um executivo caro e duvidoso entre o beneficente e o beneficiário, que pode no máximo mediar os recursos materiais mas não serve como canal para transportar empatia, consolo, sentimentos..., e tudo que importa mais do que recursos.

Esse é o alcance do cobertor comum.

Os reinos deste mundo são recobertos pelo celeste, onde há lugar para todos, pois aí prevalecem as mesmas leis que o Criador estabeleceu para a natureza toda, desde o princípio, o fundamento dos direitos e dos deveres naturais.

Segue: Velhice comum

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Envelhecimento e cidadania

 

Envelhecimento 06

...isto é o que foi predito pelo profeta Joel: “Nos últimos dias,
diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos.
Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões,
os velhos terão sonhos...”


Atos 2.16-17

Até o final do século passado, ninguém cogitava de se preparar especificamente para enfrentar a velhice ou cuidar de seus velhos, como sempre se fez em todas as sociedades para se alimentar, agasalhar, estudar, casar, ter filhos e morrer, por exemplo. Isso porque poucas pessoas chegavam aos 65 anos, idade em que se agravam as dificuldades próprias da idade avançada, que também não se mostravam maiores que as enfrentadas mesmo pelos mais moços, numa época em que a vida era bem mais dura em todos os aspectos.

Hoje, segundo os entendidos, todos estão autorizados a esperar que cheguem pelo menos aos 76, a ficarem bem velhos. Quantos estarão preparados para essa fase da vida? Para conviver com os que nela chegam? O futuro estará? Para receber os que chegarão cada dia em maior número?

Mas, o que significa ser velho? Esse termo acumula vários significados; alguns surgem naturalmente com o passar do tempo, mas a maioria são adquiridos por ele mesmo ou imputados por terceiros ou pelas circunstâncias. Alguns são altamente positivos, como experiente, veterano, sábio; outros, bem negativos, como gasto, usado, obsoleto, inútil, maltratado. Com a colaboração de todos os envolvidos, os positivos podem ser ampliados e multiplicados, e os negativos, evitados ou reduzidos pois todos compartilharão destino semelhante, ao mesmo tempo ou em diferentes momentos. E tudo pode e deve ser preparado, os que envelhecem, os que com ele vão interagir na jornada, e o ambiente que os acolherá.

O que podemos esperar dos governos deste mundo neste sentido estará sempre muito longe do suficiente. Entretanto, sua responsabilidade específica é fundamental e não há como dispensá-la. Um exemplo é a excelente legislação que temos favorável aos mais velhos; ainda pode e deve melhorar, mas já abriu enormes espaços para ações na base, a serem ocupados pelo cidadão que já é idoso ou que pretenda chegar lá.

A Constituição do Brasil, sua Política Nacional do Idoso, bem como o posterior Estatuto do Idoso, por exemplo, não somente afirmam enfaticamente que cabe à sociedade como um todo assistir com prioridade absoluta o cidadão idoso em suas necessidades, como também reconhecem o inestimável valor dessas ações espontâneos, ao chamar seus condutores para orientar o poder público na elaboração e fiscalização das políticas governamentais voltadas para a população de idade avançada, integrando os Conselhos do Idoso, obrigatórios nos níveis federal, estadual e municipal.

Lamentavelmente, esta determinação não chega a ser cumprida em várias unidades da federação, muitas vezes por desinteresse do poder público envolvido, mas principalmente pela simples falta de entidades que se disponham a representar os idosos e suas necessidades.

Segue: Para além do cobertor público.

quarta-feira, 30 de junho de 2021

O cobertor comum

 Envelhecimento 05

- Quando você emprestar alguma coisa ao seu próximo,
e ele prometer como garantia de pagamento a capa de dormir...
Se ele for pobre, não fique com a capa durante a noite:
devolva-a ao dono antes do pôr-do-sol,
para que a use como cobertor. Ele ficará agradecido,
e você terá feito aquilo que o SENHOR, nosso Deus, acha certo.

Deuteronômio 24.9-13

O advento do Reino dos Céus aconteceu também no momento de uma grande crise sócio-político-econômica que assolava os reinos dos homens habitados pelos primeiros cristãos, Judá e o Império Romano. Para superá-la os novos convertidos não cogitaram de nada parecido com um golpe ou complicada reforma política, tributária ou coisa que o valha: submeteram-se de imediato voluntariamente às Leis do Novo Reino.

Elas sempre foram parcialmente observadas por um grupo maior ou menor de cidadãos de boa vontade em vários lugares, pois trata-se do procedimento mais natural do mundo estender a riqueza produzida por todos para cobrir a necessidade de cada um.

Enquanto sobra espaço sob esse cobertor comum, o cobertor público mostra-se demasiado curto: em primeiro lugar porque este é de fato constituído por uma pequena parcela daquele, arrecadada dos próprios beneficiários em forma de impostos diversos, através de um processo muito complicado e dispendioso, de modo que mais da metade fica pelo caminho, sem falar nas sonegações, riscos de vazamentos, custos das licitações, nem sempre confiáveis, etc. Além de curto, está também todo furado.

Sendo assim, os cidadãos que controlam o espaço que sobra sob o cobertor comum não se mostram muito dispostos a simplesmente pagar mais impostos para melhorar a situação, preferindo apoiar naturalmente iniciativas de gestores de boa vontade também comuns nos quais confiam e conhecem, juntamente com os próprios beneficiados. Essa proximidade possibilita que os recursos venham temperados com boa dose de afetividade e calor humano; no caso dos idosos, talvez ainda mais necessários do que as próprias doações financeiras. Além disso, reduz significativamente as perdas no trajeto entre contribuintes e destinatários, bem como os custos, quando a ajuda toma a forma de doação de material e trabalho voluntário.

Agora mesmo, neste nosso inverno sócio-político-econômico, muitas iniciativas cidadãs dessa natureza bastante criativas estão em ação bem perto de cada um de nós, necessitando de nosso aporte com urgência. Basta olhar à volta, desviando um pouco os olhos demasiado focados nos escândalos que nos fascinam. Se não encontrarmos, talvez seja necessário nós mesmos darmos o primeiro passo, e certamente não teremos dificuldade em encontrar quem só esteja necessitando de uma companhia para iniciar a caminhada.

Lembrando ainda que, se a gestão do cobertor comum compete a cada cidadão, numa democracia o cobertor público também, em parceria com os beneficiários.

Segue: Envelhecimento e cidadania.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Cobertor público

Envelhecimento 04

Trabalhem para o bem da cidade
para onde eu os mandei como prisioneiros.
Orem a mim, pedindo em favor dela, pois,
se ela estiver bem, vocês também estarão.

Jeremias 29.7

Mais importante é ser do que ter” dizem os que têm onde morar, mesa farta, agasalho no inverno, saúde, amparo nas adversidades... É verdade que para ser não basta ter, mas é preciso contar pelo menos com um mínimo para ser plenamente humano, uma pessoa.

A grosso modo, esse mínimo é reconhecido como um direito natural, de cada indivíduo, e também universal, que deve alcançar a todos. Quem produz a totalidade dos recursos para suprir tal direito são os próprios beneficiários, através de seu trabalho. Economicamente falando, o que caberia a cada um e a todos retornaria em forma de salários. Mas, contraditoriamente, segundo nossa prática econômica, esse retorno não é suficiente para a grande maioria, principalmente para os que mais se desgastam; uma minoria recebe além da conta, a ponto de se acharem super-homens.

Dentre os direitos universais contam-se os de alimento, moradia, educação, saúde e amparo aos portadores de necessidades especiais, como as dos idosos em geral, anteriormente cobertas em parte por organizações religiosas, solidárias e assistenciais. No Brasil, como em outros países, essa cobertura passou por lei a ser responsabilidade do poder público. Talvez por confiar demais na capacidade do novo parceiro, o aporte daquelas diminuiu muito. Mesmo que não tenha desaparecido completamente, o cobertor continua ainda, além de remendado, escandalosamente curto.

Para começar, governo não é o melhor fiador para os direitos individuais e universais. Primeiro, porque atribui inicialmente às famílias a responsabilidade de prover as necessidade de seus membros tecnicamente chamados de incapazes. O fato é que a maioria daquelas são pobres e mantidas mesmo pelos benefícios previdenciários e sociais recebidos por estes. Em resumo, para ficar claro: os incapazes acabam amparando com sua incapacidade seus capazes, muito precariamente, é evidente. Basta dar uma olhada ao nosso redor para perceber também que tal atribuição não é cumprida nem por grande parte dos que dispõem de recursos; a dimensão e as causas dessa verdadeira agressão aos direitos naturais dos mais próximos encontram-se na complexa parte submersa do envelhecimento emergente e dependem de estudos que ainda estão no início.

Talvez esses estudos venham a gerar novas leis, mais favoráveis aos idosos. Mas não podemos esquecer que grande parte do estabelecido na Constituição brasileira de 1988, há 33 anos, ainda continua letra morta, e de perguntar: por esse caminho, quantas gerações devem passar para que seus velhos usufruam da riqueza e das vidas que se desgastaram para gerar e manter?

Existe um caminho mais rápido: sem tantas curvas, barreiras, pedágios...

Segue: O cobertor comum.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

2021 – um ano invernal

Envelhecimento 03 

Enquanto o mundo existir, sempre haverá semeadura e colheita,
frio e calor, verão e inverno, dia e noite."
Gênesis 8.22

Pode ser que eu fique algum tempo com vocês, talvez todo o inverno,
e assim vocês poderão me ajudar a continuar a minha viagem
para onde quer que eu for.

1 Coríntios 16.6

Fiel como sempre, a natureza nos proporciona mais um inverno a partir desta semana. Apesar de o clima continuar meio desagradável, o sol vai aparecer cada dia mais cedo, elevando-se pouco a pouco e desaparecendo mais tarde: dias mais longos, noites mais curtas. No final, mais claridade e calor, menos trevas, menos frio.

Meio parecido com o clima sócio-político-econômico deste ano: ainda muito hostil ao cidadão comum, mas um pouco menos confuso; as forças políticas mais positivas, que pareciam meio adormecidas, começaram a se movimentar no sentido de reaquecer nossa esperança.

No ambiente natural, a chegada da estação seguinte, a primavera, é mais que uma esperança, uma certeza, com tudo o que ela traz de bom, bonito e agradável: os frutos, as flores, os pássaros, seus sabores, suas cores, suas melodias... o amor, diria o poeta. Para acontecer dessa maneira, não somente o sol, mas também o ar e as águas comportam-se nas alturas sempre da maneira correta, mas não basta.

Decisivo é o trabalho realizado paralelamente no subsolo, pelas minhocas e seus minúsculos colegas. Ninguém os vê, ninguém elogia, aplaude ou curte. Às vezes são notados pelos agricultores, seus companheiros da superfície, mas retornam rápido ao anonimato. O meio-ambiente como um todo, em comum, proporciona-lhes todo o necessário para que concluam sua tarefa com perfeição.

No ambiente sócio-político-econômico, para além da atmosfera também só existe espaço para os grandes astros. Abaixo destes, uma multidão disputa às cotoveladas visibilidade, plateia, elogios, aplausos, seguidores, curtições..., amores duvidosos, tendo ou não a oferecer uma contribuição positiva. No subsolo, uma multidão quase anônima se desdobra em suas tarefas, sem receber o mínimo necessário para produzir a riqueza comum de que todos logo acima dependem e reclamam.

Seus idosos não se tornam menos produtivos ao passar a perceber uma aposentadoria; mas sua produtividade diminui com o agravamento das dificuldades próprias do envelhecimento, em grande medida decorrentes dos maus tratos sofridos quando ainda produziam bastante.

Neste ambiente também, é o trabalho coletivo e anônimo realizado hoje no subsolo que formatará a estação que vai suceder esse ano invernal. Talvez você precise descer ao anonimato, ou amparar de alguma maneira os que lá se encontram, para gerar a primavera que os novos idosos do futuro estão precisando: melhor, mais bonita e agradável... amor verdadeiro.

Até lá, o que temos mesmo é o Cobertor público, a seguir.


quarta-feira, 9 de junho de 2021

Finanças comuns

Envelhecimento 02

 

Ninguém usa um retalho de pano novo
para remendar uma roupa velha;
pois o remendo novo encolhe e rasga a roupa velha,
aumentando o buraco.
Marcos 2.21

Como o nome está dizendo, chamamos de finanças públicas aquelas aplicadas à riqueza gerida, administrada pelo poder público, pelo governo, pelo Estado. Finanças comuns se referem às relacionadas com o total da riqueza existente no país, sob a responsabilidade de uma multidão de gerentes, além do poder público; entre eles estão as empresas, as igrejas, entidades em geral, qualquer empreendedor e mesmo indivíduos – desde navios enormes até os muito pequenos.

Portanto, atendo-nos ainda apenas ao aspecto financeiro, percebemos que a ampliação da expectativa de vida, somada ao crescimento da proporção de idosos com relação à totalidade da população nesta virada de século, bem antes de provocar enorme rombo nas contas do navio da Previdência, já vinha causando danos bem maiores nos incontáveis barquinhos, quase invisíveis, que compartilham as finanças comuns, navegando em volta.

Um exemplo significativo: de acordo com os gestores públicos, a população idosa, aposentados e pensionistas, não têm condições de prover os recursos necessários para sua sobrevivência, são dependentes, devendo ser sustentados com recursos gerados pelos mais novos, supostamente produtivos. Mas, embora não se disponha de dados completos, chega a ser impressionante o número de filhos e netos que, invertendo a situação, dependem eles próprios da aposentadoria e outros benefícios sociais recebidos pelos seus velhos.

Esse pode não ser o seu caso, mas remendos dessa natureza nos afetam constantemente. Refletem as enormes limitações do poder público e de suas finanças. É hora de se perguntar: podemos esperar que este, contando apenas com a parte que está a sua disposição, venha a suprir as necessidades de todos os cidadãos que se desgastam para gerar a totalidade da riqueza comum?

Os primeiros cristãos encontraram outra saída. Na época, o Império Romano é que administrava as finanças públicas, insuficientes até para garantir sua própria sobrevivência. Então, os cidadãos do Novo Israel de Deus, passaram a ser radicais na aplicação da riqueza comum sobre a qual tinham controle, obedecendo sem rodeios a Lei de Moisés, com relação aos necessitados:

...eu ordeno que vocês sejam generosos com todos eles.
Deuteronômio 15.11

Ninguém considerava exclusivamente sua
nem uma das coisas que possuía;
tudo, porém, lhes era comum...
Pois nenhum necessitado havia entre eles...

Atos 4.32-34

A Economia de roupa nova, própria para o inverno.

Segue: 2021 – um ano invernal.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

É pra hoje

Envelhecimento 01

Sempre haverá pobres e necessitados no meio do povo,
e por isso eu ordeno que vocês sejam generosos com todos eles.

Deuteronômio 15.11

A pandemia vai passar, todos esperam. Então tudo voltará a ser como antes? Lembra-se como era? Quer mesmo que volte? Se tivesse sido um pouco diferente, talvez o hoje não fosse tão tenebroso. Por isso, todo mundo quer saber o que faltou fazer ou foi feito errado ontem, apontar os culpados, remediar o que for possível, etc.

Do mesmo modo, como vai ser o amanhã, depois da pandemia, depende também do que está sendo feito, ou não, agora: É pra hoje.

Como ficará o problema da fome no Brasil? Do desemprego, da violência, da educação, da saúde? Para que ninguém se sinta excluído e pense na possibilidade de cair fora, consideremos uma situação que nunca foi fácil encarar, que tende a piorar e da qual ninguém escapa, nem deseja fazê-lo: a velhice.

O artigo 230 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, já determinara:

A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.

Entretanto, mesmo com a promulgação da Política Nacional do Idoso, em 1984, e do Estatuto Nacional do Idoso, em 2003, muito pouca coisa significativa foi feita de concreto até agora. Enquanto isso, a expectativa de vida, que em 1900 era de 33,7 anos e 43 em 1950, crescia aceleradamente: em 1990 saltara para 65 anos; em 2000, pulou para os 70 anos e em 2017, para 76, e não deve desacelerar tão cedo.

Tem mais: à medida que se amplia a expectativa de vida, cresce também a proporção de idosos com relação à totalidade da população: em 2018, em cada 100 brasileiros, apenas 13 haviam passado dos 60. As projeções dos especialistas indicam que em 2043, quando quem tem hoje 37 anos ou mais chegar lá, serão 25 para cada 100, ou seja, a proporção de idosos praticamente dobrará em apenas um quarto de século

É compreensível que até o final do século passado a velhice tenha despertado pouca atenção dos brasileiros, pois apenas em 1990 a expectativa de vida atingiria os 65 anos, idade média em que se agravam as dificuldades próprias da idade avançada. Os idosos eram relativamente poucos e seus problemas não pareciam tão mais graves comparados com os que acometiam toda a população, numa época em que tudo era mais difícil.

O fenômeno emergiria na virada do século como a ponta de um iceberg, prognosticando um enorme rombo no casco do navio da Previdência e outro nas contas do Sistema de Saúde. Mas a amplitude e a natureza da montanha submersa ainda está para vir à tona, pois os estragos nos transtornos relacionados à velhice deverão ser muito mais sérios do que um arranhão nas finanças públicas. Ou Finanças comuns? - Nosso próximo assunto.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

"Uma vida onerosa!“

- O rei os tratará assim: tomará os filhos de vocês para serem soldados;
porá alguns para servirem nos seus carros de guerra,
outros na cavalaria e outros para correrem adiante dos carros.
...Os seus filhos terão de... fabricar as suas armas e equipamentos
para os seus carros de guerra.
1 Samuel 8.11-12

Os primeiros séculos da era cristã coincidiram com o início da queda do Império Romano. A preservação da ordem interna, bem como a defesa das fronteiras ameaçadas consumiam recursos cada vez mais vultosos que provinham dos povos dominados, de modo que a vida não era nada fácil nem mesmo para os ricos que viviam nesses territórios. Praticamente tudo que estes produziam era arrecadado pelo estado, através de inúmeros e pesados impostos, quando não pela simples usurpação violenta. O endividamento era uma consequência inevitável, com juros que tornavam os débitos simplesmente impagáveis.

Os pobres eram constituídos basicamente por multidões de escravos famintos cujos senhores não conseguiam mais sustentá-los e que perambulavam pelas grandes cidades. Multiplicavam-se as revoltas, que eram reprimidas sem piedade.

Os cristãos primitivos encararam esse período extremamente conturbado política, social e economicamente, repartindo os seus bens, e conseguindo ainda assim acumular para a Igreja, até o final do terceiro século, um patrimônio considerável. Mesmo vivendo em constante tensão com o Império e encarando problemas internos de toda ordem. Não foi fácil praticar uma economia na contramão da adotada pelos filhos deste mundo, mas as evidências é de que, apesar de tudo, foi possível e valeu a pena para os envolvidos.

No final do século IV é que as coisas começaram a mudar, aparentemente para melhor; a Igreja passou a gozar das benevolências das autoridades deste mundo; entretanto, foi quando São João Crisóstomo lamentaria:

Ah! Por que é que se terão perdido estas tradições? Ricos e pobres poderiam todos tirar proveito destes costumes piedosos e uns aos outros sentiríamos o mesmo prazer em nos conformarmos com eles...”

Não se pode afirmar que a repartição dos bens fosse praticada desde o início por toda a Igreja em todos os lugares, mas é certo que ela não desapareceria totalmente no transcurso de sua história. Encontramos também em muitas outras culturas de diferentes épocas, cada uma fazendo à sua maneira. No Brasil mesmo, as comunidades indígenas e quilombolas são apenas dois exemplos que estão diante de nossos olhos a merecer exame mais cuidadoso.

Na verdade, o estranho mesmo na história dos povos é a propriedade privada tal como a concebemos em nossos dias, feita sagrada apenas após a Idade Média. Uma vez imposta, ainda ouve quem continuasse a incentivar práticas para torná-la menos onerosa para os despossuídos, como cooperativas de consumo ou produção e, mais recentemente, as diversas formas de economia solidária. De certo modo, seguem os passos de inúmeras organizações e entidades beneficentes centenárias, religiosas e civis, que foram pioneiras não apenas no combate à fome, mas igualmente no cuidado dos enfermos e a na promoção do ensino.

Muito nos alegramos pelo fato de o poder público ter assumido pelo menos parte dessas tarefas. Entretanto, muito pouco do estabelecido pela Constituição de 1988, há 33 anos, tomou forma de Lei, e muito menos, chegou a ser praticado.

A seguir: É pra hoje.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

O bem contra o mal – PENTECOSTES

 

No próximo domingo, dia 23, algumas igrejas cristãs celebrarão Pentecostes. De certo, mais uma vez se pregará sobre dons de línguas e unidade dos cristãos. Mas outros fatos importantes ocorreram por ocasião do evento. Muito esquecido ou mal explicado, embora de uma atualidade gritante, foi o que provocaria em quem se converteu após a pregação de Pedro:

Todos os que creram estavam juntos
e tinham tudo em comum.
Vendiam as suas propriedades e bens,
distribuindo o produto entre todos,
à medida que alguém tinha necessidade.

Atos 2.44-45

O mesmo aconteceria ao cinco mil que aceitaram a mensagem do mesmo apóstolo pouco mais tarde, após a cura de um aleijado no templo:

Da multidão dos que creram era um o coração e a alma.
Ninguém considerava exclusivamente sua
nem uma das coisas que possuía;
tudo, porém, lhes era comum...
Pois nenhum necessitado havia entre eles,
porquanto os que possuíam terras ou casas,
vendendo-as, traziam os valores correspondentes
e depositavam aos pés dos apóstolos;
então, se distribuía a qualquer um
à medida que alguém tinha necessidade.

Atos 4.32-35

Os historiadores da Igreja Cristã nem sempre deram importância a essa prática; considerando no máximo um engano mal sucedido, circunscrito à comunidade primitiva de Jerusalém. Talvez tenham valorizado excessivamente as disputas teológicas e de poder nas quais ela se envolveria interna e externamente.

Entretanto, no mínimo meio século mais tarde, um grupo da segunda geração de convertidos viria chamar a atenção de um historiador não cristão que vivera na Síria e Egito, Luciano de Samósata: 

Desde que mudaram de culto, renunciaram aos deuses gregos e adoram o sofista crucificado de quem seguem as leis. Desprezam igualmente todos os bens e põem-nos em comum, pela fé completa que têm nas suas palavras.”

Já Tertuliano, jurista e teólogo cristão da terceira geração que viveu em Cartago, cidade mais próspera na costa do mar Mediterrâneo, na atual Tunísia, norte da África, testemunharia:

...somos irmãos na nossa propriedade familiar com a qual a maior parte das vezes se dissolve a irmandade. Nós, portanto, que estamos unidos de alma e espírito, não temos dúvidas em ter bens em comum...”

Reveladora é uma carta de Mensurius, bispo de Cartago, a Secundus, bispo de Tigrisi, durante a perseguição sob Diocleciano, já no início do quarto século, em que declara ter proibido que alguém fosse homenageado como mártir que se entregara por vontade própria. Diz ele:

alguns deles eram criminosos e devedores do Estado, que achavam que poderiam, com isso, se livrar de uma vida onerosa, ou então apagar a lembrança de seus delitos, ou pelo menos ganhar dinheiro e gozar na prisão os luxos supridos pela bondade dos cristãos.”

Gozar na prisão os luxos” supridos pela bondade dos cristãos, para se livrar de' “Uma vida onerosa!“ A seguir.