Quem, pra isso, tem poder?

JÓ de Uz – 32

Só de olhar pra Leviatã,
já a gente se amedronta
e, assim, perde a coragem;
tanto medo toma conta.
Jó 41.9

Na sua Primeira Resposta, Deus expôs sua poderosa e competente atuação no âmbito da natureza, em todas suas dimensões. No início da Segunda, tratou de um grave problema específico das sociedades humanas, ou seja, o da opressão dos humildes por parte dos poderosos.

Na sequência da Segunda Resposta, capítulo 40.15-41.34, para ficar bem claro que seu poderio extrapolava em muito aqueles dois ambientes familiares a seu servo rebelde, ocupou-se de criaturas de um mundo que geralmente chamamos de sobrenatural, ou simplesmente imaginário.

A primeira a que se referiu chamou de Beemote, conforme o texto original. Esse nome foi traduzido por hipopótamo na versão que estamos utilizando, mas já foi também identificado com o elefante e o búfalo. Esses animais conhecidos são de fato muito fortes, entretanto, o poder que Deus atribuiu àquela criatura misteriosa ultrapassa em larga escala o que estes demonstram possuir na vida real. Apesar disso, por mais poderosa que ela pudesse ser, Eu vim também criar, como Eu criei você. Mas também deixou claro: Só Eu o posso vencer.

Sobre a segunda criatura citada, Leviatã, é comum encontrar referências na literatura do Oriente antigo em geral. Costuma ser identificada com o crocodilo, mas seus poderes extraordinários excedem igualmente aos deste animal e também não se restringem ao mundo material, de modo que se tornou o símbolo das potências hostis ao Criador. Apesar de sempre ser por este derrotada, é merecedor de todo respeito: entre as feras orgulhosas, ele é rei bem majestoso.

Nem quem vive no mundo de hoje está imune aos temores que provocam criaturas que habitam tal mundo nebuloso sobrenatural/imaginário. Já são tantas e de tantas categorias, impossível de enumerar. Especialistas se oferecem como capazes de derrotá-las, e muitas vezes se dão muito mal. Entretanto, por mais tenebrosas que elas sejam apresentadas, não chegam também a constituir uma ameaça preocupante aos sólidos intentos do Deus verdadeiro. 

Segue: Adorando só a Ti

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O poder dos opressores

JÓ de Uz – 31

Olhe para os orgulhosos; e derrame o seu furor
contra eles pra humilhar – faça isso com ardor.

Olhe, sim, e os humilhe; pise os ímpios onde estão;
os sepulte sob a terra e amarre-os na prisão.

Este foi o desafio que Deus propôs a Jó na primeira parte de sua Segunda Resposta, no capítulo 40.6-14, a única referência direta que ele fez às inúmeras queixas de seu servo. Pois ele colocara em dúvida um de seus poderosos atos no comando da criação, que se somava aos inúmeros citados na Primeira Resposta e dos quais Jó não tinha a mínima ideia.

Propôs o desafio para questionar sua ousadia:

Será que, a sua força, você pode comparar com a Minha?

Quem são esses orgulhosos que precisavam se humilhados? Os sábios os chamavam indistintamente também de soberbos, ímpios, maus, perversos, opressores e outras denominações menos frequentes, mas igualmente abomináveis.

Que faziam?

Quem é mau persegue os outros – muitas vezes por dinheiro –...

O perverso, contra Deus, sua mão vem levantar,
desafia o Deus-Poder. É rebelde; está a pensar

que se acha protegido por escudo bem pesado,
e se joga contra Deus. Seu olhar – muito enganado –

é bem cheio de orgulho; egoísta é o coração.
- Jó 15.20-27

Muitos na história da humanidade, convencidos de que sua força possa ser comparada à do Eterno, tentam muitas vezes empreender por sua própria conta esse desafio, mas os resultados são sempre desastrosos, uma vez que essa é uma empreitada que compete exclusivamente à divindade e a seus fiéis servidores. Quando o ser humano se mete a tomá-la para si, comete atrocidades ainda piores do que as que se propõe a eliminar.

Mas, a bem da verdade, Deus conta com que os homens e mulheres verdadeiramente sábios como Jó, que me teme e procura nada, pois, fazer errado, procedam como ele no tempo em que o Deus Eterno, meu caminho, iluminava:

Era o pai dos desgraçados, defensor dos estrangeiros.

Acabava co’o poder de opressores e livrava

suas vítimas de ser exploradas por suas garras.

- Jó 29.16-17

Segue: Quem, pra isso, tem poder? – Jó 40.24

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O que eu responderia?

JÓ de Uz – 30

Depois disso, lá do meio
dessa grande tempestade,
Deus Eterno deu a Jó
a resposta, Sua verdade.

Nos capítulos 38.1-40.2, encontramos finalmente a primeira intervenção divina na conversa – tão ansiosamente aguardada por nós leitores e certamente muito mais pelos protagonistas da história. Seus poderosos atos no comando da criação estão aí novamente assinalados, de maneira ainda mais maravilhosa.

Quem esperaria que, para contestar um questionamento ético crucial, Deus viesse com uma competente aula de Física, Biologia, Geologia, Meteorologia, Astrologia e outras ciências. Na verdade, os sábios antigos costumavam investigar em todos os campos do conhecimento humano, que na época não passava de um único conglomerado permanentemente integrado enriquecendo-se como apenas um. Com o tempo, as investigações se especializaram, separando-se umas das outras, desintegrando-se, tomando cada uma o seu rumo. Talvez as que mais tenham se distanciado tenham sido mesmo a Física e a Teologia, infelizmente.

Hoje, a maioria das perguntas que deixaram Jó perplexo não mais deslumbra os estudiosos e seria respondida com facilidade por alunos do ensino médio. Entretanto, à medida que a humanidade foi encontrando respostas para suas dúvidas aparentemente insolúveis, deparou-se com questões muitas vezes mais enigmáticas, de modo que ainda sobram mistérios diante dos quais se calam os cientistas mais conceituados. Tomando-se, por exemplo, a teoria hoje universalmente aceita de que o universo está contido num espaço-tempo irregularmente curvo como uma casca de noz, poderia o Eterno questionar: - Sabes quem o dobrou? Ou: - Sabes quem enfiou o universo todinho numa singularidade (um espaço-tempo sem largura, altura ou profundidade), onde ele estava comprimido por ocasião da Grande Explosão - Big-Bang – que lhe deu origem?

O que fica bastante evidente desta primeira aparição divina é que, numa eventual contenda entre o homem e Deus, é a este que cabe fazer as perguntas e àquele, calar-se. Jó entendeu:

Ó Eterno, nada valho;
o que eu responderia?
Eu prefiro estar calado.
Falei mais do que devia.
(40.3-4)

Segue: O poder dos opressores

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Sua justiça é infinita

JÓ de Uz – 29

Ah! Quem pode governar,
sim, tão bem quanto o Eterno?

Eliú iniciou sua Quarta Fala – capítulos 36-37 - fazendo agora coro com os amigos que o precederam, para reafirmar mais uma vez a mesma coisa:

Você, Jó, está sofrendo, mas por sua iniquidade;
cuide bem pra não voltar a fazer, pois, tal maldade.

E também para rebater as queixas de Jó contra Deus:

Como Deus é poderoso! Ah! Quem pode governar,
sim, tão bem quanto o Eterno? Ninguém pode nunca dar

qualquer ordem ao Senhor nem jamais O acusar
de que Ele, alguma vez, veio o mal já praticar.

E somente uma leitura atenta, na sequência, da criativa exaltação dos admiráveis feitos divinos como criador e mantenedor de tudo que existe, para compreender o alcance de suas últimas palavras:

O Deus Todo-Poderoso, não podemos compreender;
o Deus nosso, de justiça, possui grande, sim, poder!

Sua justiça é infinita: Não persegue, não, ninguém.
É por isso que as pessoas temem, amam a Deus também!

Entretanto, sua derradeira afirmação parece antever a postura que Deus tomaria, ao entrar finalmente em cena, a seguir:

Deus não dá muita importância aos que acham entender
tudo, como, sábios, fossem e detêm todo o saber.

Segue: O que eu responderia?

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