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Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?
Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)

segunda-feira, 24 de maio de 2021

"Uma vida onerosa!“

- O rei os tratará assim: tomará os filhos de vocês para serem soldados;
porá alguns para servirem nos seus carros de guerra,
outros na cavalaria e outros para correrem adiante dos carros.
...Os seus filhos terão de... fabricar as suas armas e equipamentos
para os seus carros de guerra.
1 Samuel 8.11-12

Os primeiros séculos da era cristã coincidiram com o início da queda do Império Romano. A preservação da ordem interna, bem como a defesa das fronteiras ameaçadas consumiam recursos cada vez mais vultosos que provinham dos povos dominados, de modo que a vida não era nada fácil nem mesmo para os ricos que viviam nesses territórios. Praticamente tudo que estes produziam era arrecadado pelo estado, através de inúmeros e pesados impostos, quando não pela simples usurpação violenta. O endividamento era uma consequência inevitável, com juros que tornavam os débitos simplesmente impagáveis.

Os pobres eram constituídos basicamente por multidões de escravos famintos cujos senhores não conseguiam mais sustentá-los e que perambulavam pelas grandes cidades. Multiplicavam-se as revoltas, que eram reprimidas sem piedade.

Os cristãos primitivos encararam esse período extremamente conturbado política, social e economicamente, repartindo os seus bens, e conseguindo ainda assim acumular para a Igreja, até o final do terceiro século, um patrimônio considerável. Mesmo vivendo em constante tensão com o Império e encarando problemas internos de toda ordem. Não foi fácil praticar uma economia na contramão da adotada pelos filhos deste mundo, mas as evidências é de que, apesar de tudo, foi possível e valeu a pena para os envolvidos.

No final do século IV é que as coisas começaram a mudar, aparentemente para melhor; a Igreja passou a gozar das benevolências das autoridades deste mundo; entretanto, foi quando São João Crisóstomo lamentaria:

Ah! Por que é que se terão perdido estas tradições? Ricos e pobres poderiam todos tirar proveito destes costumes piedosos e uns aos outros sentiríamos o mesmo prazer em nos conformarmos com eles...”

Não se pode afirmar que a repartição dos bens fosse praticada desde o início por toda a Igreja em todos os lugares, mas é certo que ela não desapareceria totalmente no transcurso de sua história. Encontramos também em muitas outras culturas de diferentes épocas, cada uma fazendo à sua maneira. No Brasil mesmo, as comunidades indígenas e quilombolas são apenas dois exemplos que estão diante de nossos olhos a merecer exame mais cuidadoso.

Na verdade, o estranho mesmo na história dos povos é a propriedade privada tal como a concebemos em nossos dias, feita sagrada apenas após a Idade Média. Uma vez imposta, ainda ouve quem continuasse a incentivar práticas para torná-la menos onerosa para os despossuídos, como cooperativas de consumo ou produção e, mais recentemente, as diversas formas de economia solidária. De certo modo, seguem os passos de inúmeras organizações e entidades beneficentes centenárias, religiosas e civis, que foram pioneiras não apenas no combate à fome, mas igualmente no cuidado dos enfermos e a na promoção do ensino.

Muito nos alegramos pelo fato de o poder público ter assumido pelo menos parte dessas tarefas. Entretanto, muito pouco do estabelecido pela Constituição de 1988, há 33 anos, tomou forma de Lei, e muito menos, chegou a ser praticado.

A seguir: É pra hoje.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

O bem contra o mal – PENTECOSTES

 

No próximo domingo, dia 23, algumas igrejas cristãs celebrarão Pentecostes. De certo, mais uma vez se pregará sobre dons de línguas e unidade dos cristãos. Mas outros fatos importantes ocorreram por ocasião do evento. Muito esquecido ou mal explicado, embora de uma atualidade gritante, foi o que provocaria em quem se converteu após a pregação de Pedro:

Todos os que creram estavam juntos
e tinham tudo em comum.
Vendiam as suas propriedades e bens,
distribuindo o produto entre todos,
à medida que alguém tinha necessidade.

Atos 2.44-45

O mesmo aconteceria ao cinco mil que aceitaram a mensagem do mesmo apóstolo pouco mais tarde, após a cura de um aleijado no templo:

Da multidão dos que creram era um o coração e a alma.
Ninguém considerava exclusivamente sua
nem uma das coisas que possuía;
tudo, porém, lhes era comum...
Pois nenhum necessitado havia entre eles,
porquanto os que possuíam terras ou casas,
vendendo-as, traziam os valores correspondentes
e depositavam aos pés dos apóstolos;
então, se distribuía a qualquer um
à medida que alguém tinha necessidade.

Atos 4.32-35

Os historiadores da Igreja Cristã nem sempre deram importância a essa prática; considerando no máximo um engano mal sucedido, circunscrito à comunidade primitiva de Jerusalém. Talvez tenham valorizado excessivamente as disputas teológicas e de poder nas quais ela se envolveria interna e externamente.

Entretanto, no mínimo meio século mais tarde, um grupo da segunda geração de convertidos viria chamar a atenção de um historiador não cristão que vivera na Síria e Egito, Luciano de Samósata: 

Desde que mudaram de culto, renunciaram aos deuses gregos e adoram o sofista crucificado de quem seguem as leis. Desprezam igualmente todos os bens e põem-nos em comum, pela fé completa que têm nas suas palavras.”

Já Tertuliano, jurista e teólogo cristão da terceira geração que viveu em Cartago, cidade mais próspera na costa do mar Mediterrâneo, na atual Tunísia, norte da África, testemunharia:

...somos irmãos na nossa propriedade familiar com a qual a maior parte das vezes se dissolve a irmandade. Nós, portanto, que estamos unidos de alma e espírito, não temos dúvidas em ter bens em comum...”

Reveladora é uma carta de Mensurius, bispo de Cartago, a Secundus, bispo de Tigrisi, durante a perseguição sob Diocleciano, já no início do quarto século, em que declara ter proibido que alguém fosse homenageado como mártir que se entregara por vontade própria. Diz ele:

alguns deles eram criminosos e devedores do Estado, que achavam que poderiam, com isso, se livrar de uma vida onerosa, ou então apagar a lembrança de seus delitos, ou pelo menos ganhar dinheiro e gozar na prisão os luxos supridos pela bondade dos cristãos.”

Gozar na prisão os luxos” supridos pela bondade dos cristãos, para se livrar de' “Uma vida onerosa!“ A seguir.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

É hora de reencontrar o Caminho - ASCENSÃO

 


E lembrem disto: eu estou com vocês todos os dias,
até o fim dos tempos.

Mateus 28.20

Ainda há muitas outras coisas que Jesus fez.
Se todas elas fossem escritas, uma por uma,
acho que nem no mundo inteiro caberiam os livros
que seriam escritos.

João 21.25

Duas maneiras de encerrar seus evangelhos. João, para deixar claro que seus relatos continham apenas uma ínfima parte do que Jesus fizera, confessou que, se fosse contar tudo, não haveria lugar no mundo para guardar seus livros, deixando-nos com um gostinho de quero-mais. Mateus, talvez com a mesma preocupação, concluiu registrando a promessa do Rei de estar conosco para sempre, para indicar a direção a seguir a cada curva do caminho.

Nos dois milênios de caminhada, a cristandade foi encontrando novos terrenos e paisagens que o Mestre não havia mencionado e que exigem muita atenção, como os vírus, bactérias, vacinas, indústria..., gerando dúvidas quanto a direção a tomar. Mas existem pelo menos três sinalizadores que estão postados em todo o percurso: as palavras do SENHOR inscritas na consciência de cada pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus; o procedimento fiel das coisas criadas; e a Palavra revelada e encarnada.

A consciência humana revela-se claramente em seu primeiro ímpeto diante do necessitado: socorrê-lo. Avaliar o que se poderia ganhar ou perder com tal procedimento é o que estraga tudo.

As coisas criadas comportam-se todo o tempo de acordo com as leis divinas. Algumas vezes causam transtornos; em contrapartida, disponibilizam os recursos para superá-los. No caso das enfermidades, fornecem terapias naturais, entre as quais os medicamentos, e a inteligência humana para descobri-las e aplicá-las nos semelhantes.

A Palavra revelada e encarnada é riquíssima. Talvez a infração de trânsito mais cometida no atual trecho do percurso seja contra sua placa “vença o mal com o bem”.

A presente postagem tem como subtítulo ASCENSÃO porque o evento é celebrado neste final de semana por algumas igrejas cristãs. Entretanto os dois evangelistas que citamos não o mencionam. Ao afirmar que não fora possível registrar todos os feitos de Jesus na terra, João insinua de certa maneira que muitos ainda estavam para vir a luz, pois Ele continuaria por aqui. O que está também explícito no registro de Mateus: eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos.

Segue: O bem contra o mal - PENTECOSTES

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Uma enorme diferença

 

Está escancarado na imprensa o dilema que os poderosos deste mundo que nos governam e seus conselheiros sábios e instruídos veem diante de si nestes momentos decisivos: salvar vidas ou salvar a economia.

Repercutem entre nós as palavras de Josué aos israelitas ao entrarem na Terra Prometida, inaugurando o período dos juízes:

- Portanto, agora temam a Deus, o SENHOR.
Sejam seus servos sinceros e fiéis.
...Mas, se vocês não querem ser servos do SENHOR,
decidam hoje a quem vão servir.

Josué 24.14-15

Felizmente, são muitos também os que observam as palavras do SENHOR inscritas na consciência de cada pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus, que estudam as coisas criadas, não com o propósito de manipulá-las de acordo com seus interesses, mas a fim de aprender com elas, como pessoas inteligentes. Para estes não há dilema nenhum, só existe um único caminho a seguir, o mesmo para ontem e para amanhã: salvar vidas, ou melhor, promover a vida em abundância.

Independentemente do poder que dispõem, empregam nesse propósito seus talentos arriscando as próprias vidas em laboratórios, como pesquisadores, assistentes ou cobaias humanas voluntárias; nos hospitais e postos de saúde, como médicos, enfermeiros, paramédicos...; envolvidos em outros serviços essenciais ou como simples cidadãos, protegendo e cuidando de seus familiares, colegas e amigos; praticando o isolamento social, preocupados com os anônimos.

Na verdade, este é O Caminho, que se chama Jesus, embora muitos que andam por ele nem saibam seu nome. Aquele que, quando esteve por aqui, nos ensinou muito sobre as coisas criadas, sobre as ovelhas, galinhas, sementes, frutos, lírios do campo..., não como interagir com elas, pois isso está ao alcance de todo ser racional. Nos mostrou foi como elas obedecem as leis do Criador, produzindo e desenvolvendo vida, para que voltemos a proceder da mesma maneira.

Não falou sobre vírus, bactérias, micróbios e muitas outras coisas cuja existência a razão humana viria a descobrir bem mais tarde, como os medicamentos, vacinas, imunização, saneamento... Tratando-se igualmente de coisas criadas, aplicam-se também para elas a mesma lei observada pelas galinhas, sementes, etc.: promover e salvar vidas.

E a economia? Fica para depois, quando tudo voltar a ser como antes? Mas, o que você quer mesmo é que tudo volte a ser como antes?

Vejamos: há alguns milênios houve um grande dilúvio que praticamente dizimou a vida humana sobre a terra; era para começar tudo de novo, diferente, mas continuou como antes. Há alguns séculos houve também uma grande peste que ceifou muitas vidas, numericamente recuperadas apenas após duzentos anos. Somente mais tarde os cérebros humanos descobriram os vírus e bactérias e os meios para combatê-los, fazendo uma grande diferença, mas os propósitos econômicos se encarregaram de continuar atentando contra a vida.

Segue: É hora de reencontrar o Caminho - ASCENSÃO.