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Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?
Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Encontro no presépio


O DEUS da Criação 14

Eu afirmo a vocês que isto é verdade: 
quem não receber o Reino de Deus como uma criança
 nunca entrará nele.

Marcos 10.15
Os pastores, crentes simples, seguiram a indicação dos anjos. Os magos, crentes cientistas, seguiram a indicação da estrela. E os dois grupos acabaram supostamente se encontrando em volta de uma manjedoura para animais, bem diferente dos presépios que ornamentam os ambientes natalinos, tão perfumados e asseados que mais parecem mesmo com uma obra de arte.
Vale a pena reler com muita atenção diretamente na bíblia a história do caminho percorrido por eles, nos evangelhos de Mateus e Lucas, o que certamente você não faz há muito tempo
Os primeiros receberam uma indicação muito precisa de onde encontrar o menino e foram direto. Estavam tão maravilhados que nem repararam que o local era tão inadequado para um futuro rei.
Já os magos seguiram a estrela até Jerusalém. Pensando que ali encontrariam informações mais precisas, esqueceram a estrela e foram se informar; chegaram até o palácio real. Quebraram a cara e voltaram a seguir o astro, que estacionou finalmente sobre o local.
A bíblia não diz se os dois grupos tão diferentes chegaram a se encontrar. Mas, se aconteceu, certamente ambos estranharam a presença do outro num lugar tão impróprio aos sábios e familiar aos pastores. Pelo menos é o que parece ocorreria se fosse em nossos dias. Mas ali todos se tornam iguais, em valor, em dignidade, em sabedoria, embora continuem também sendo igualmente imperfeitos e fracos.
Estranho mesmo é a ausência de algum sacerdote, profeta, mestre, ou uma autoridade relacionada de alguma forma com o ministério da Palavra revelada. Na verdade estava ali no berço improvisado a própria Palavra em pessoa, cuja simples presença tornou supérfluo, dispensável todo esse exército de serventuários, mediadores.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Os anjos e a estrela


O DEUS da Criação 13

Pensemos agora no que o Natal nos tem a dizer, à luz do que refletimos na postagem anterior.
O que você vê na imagem acima?
Um anjo e uma estrela? Só? Tem certeza?
Com certeza, você vê também pelo menos um bebê em uma manjedoura, um casal, uns pastores de ovelhas, três magos... Porque lhe ensinaram isso desde criancinha.
Alguns pastores, mas nem todos, viram antes só os anjos, e os seguiram, pois, sendo judeus, já sabiam o que encontrariam. Os magos viram primeiro só a estrela, apenas os que estavam lá. Diz-se que estes vieram do Oriente e, como costumavam interagir com os sábios de Israel, tinham uma ideia antecipada do que ela anunciava, com certeza.
Os pastores representam os crentes simples de todos os tempos, que você também pode visualizar, pois já conviveu com muitos, com certeza. Os anjos personificam a fé deles, base de sua certeza de coisas que se esperam”.
Os magos representariam de certa forma os crentes cientistas, difícil de visualizar porque hoje não encontramos muitos por aí. A estrela materializaria seu “conhecimento tácito de coisas ainda não descobertas”.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A fé e o conhecimento tácito


O DEUS da Criação 12

Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.
Hebreus 11.1
Faz sentido se admitimos que podemos ter um
conhecimento tácito

de coisas ainda não descobertas.Polanyi p23
O autor da segunda frase acima não se refere diretamente ao que afirma a primeira, pois seu propósito é resolver questões relacionadas ao saber científico. Mas temos de admitir que ele está se referindo à mesma realidade ou a outra de semelhança impressionante, que nos faz pensar na possibilidade de uma salutar reaproximação da teologia com as ciências da natureza, em benefício dos que por séculos sofrem as consequências desse divórcio, aparentemente amigável, mas que muitas vezes gera graves contendas.
Polanyi dedicou grande parte de seus escritos a demonstrar com muitos exemplos que o ”conhecimento tácito de coisas ainda não descobertas” é não apenas possível mas desempenha verdadeiramente papel fundamental na atividade científica, sua área de atuação.
Quanto aos teólogos e simples crentes caberia considerar o verdadeiro papel que a fé desempenha na vida cristã. Ela é geralmente vista simplesmente como uma opção pessoal ou um desejo forte de muito pouca consistência; entretanto, biblicamente, trata-se de algo muito mais poderoso: de nossa confiança inabalável em um fundamento tão sólido capaz de assegurar nossos projetos mais preciosos. Nas últimas postagens temos feito referências a alguns de seus aspectos. Agora é hora de prestarmos a devida atenção aos exaustivos exemplos que Hebreus se dá ao trabalho de apresentar nos 39 versículos restantes do capítulo 11, para demonstrar o significado da afirmação introdutória do primeiro, transcrito acima. Encontramos aí talvez a mais completa explanação do que significaria “frutos dignos do arrependimento”, “frutos do espírito”, “boas obras” e outros sinônimos que encontramos no Novo Testamento: pura prática, única maneira que tanto o conhecimento tácito como a fé podem ser conquistados ou demostrados.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Que é o homem?


O DEUS da Criação 11
Que é o homem mortal para que te lembres dele?
e o filho do homem, para que o visites?
Pois pouco menor o fizeste do que os anjos,
e de glória e de honra o coroaste.
Salmos 8.4,5
Como seres humanos sempre nos consideramos a mais evoluída de todas as criaturas, sem a menor sombra de dúvida. Foi certamente pelo conhecimento tácito que descobrimos, pois, apesar de toda certeza, nunca soubemos explicar bem por quê. O salmista cria que Deus nos fizera assim. A teoria da evolução das espécies concluiu sermos os que tínhamos maiores chances de sobreviver sobre a face da terra, mas sabe-se hoje que os insetos são muitas vezes mais capacitados que nós nessa modalidade e que na verdade representamos na atualidade a maior ameaça à vida no planeta. Mas não descemos do salto. Considera-se também nossa inteligência o fator determinante e fomos denominados Hommo Sapiens, mas é exatamente nossa inteligência que está a ponto de botar tudo a perder
Já Polanyi, o autor que vimos comentando, considera ser nosso senso moral, ético, o que nos torna únicos, nossa possibilidade de escolher entre o bem e o mal, o certo e o errado. Percebemos aqui uma convergência com a conclusão do Elogio da Sabedoria que encontramos no livro bíblico de Jó (capítulo 28), onde sabedoria e entendimento são concebidos como um exercício não simplesmente racional, mas sobretudo ético:
Eis que o temor do Senhor é a sabedoria,
e o apartar-se do mal é o entendimento
.”
(Jó 28.28)
Considera também que os seres vivos mais evoluídos são passíveis de malformação, risco que aumenta à medida que sobem na escala evolutiva. Seria o caso dos animais, mais propensos às doenças e deficiências que as plantas. Os racionais, além disso, podem também cometer equívocos com relação aos seus conhecimentos. Inclui finalmente entre as deficiências ou malformações a prática do mal que afetam os que possuem senso moral e ocupam o nível mais elevado.
Fácil perceber a proximidade dessa percepção com o que afirma a bíblia sobre o livre arbítrio e o pecado. Inclusive pode auxiliar a teologia a superar seu equívoco secular ao localizar na dimensão animal do ser humano sua propensão para o mal, apesar de a narrativa da criação relatar que Deus tomou o cuidado de examinar cada etapa de sua obra e comprovar que era boa, confirmando a respeito da totalidade dela após concluída. Segundo a narrativa de Gênesis, foi apenas posteriormente que “por um (só) homem entrou o pecado no mundo, como afirmaria categoricamente o apóstolo em Romanos 5.12.
Nosso próximo assunto será A fé e a dimensão tácita, que poderá esclarecer um pouco mais sobre o que a teologia ganharia reaproximando-se das descobertas dos que esquadrinham as leis que regem as coisas criadas, e vice-versa, à semelhança dos sábios antigos.