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Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?
Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)

domingo, 31 de janeiro de 2021

Credo de um positivista

 

"Creio que o homem e o mundo são governados por leis naturais.

Creio que a ciência integrou o homem no Universo, alargando a unidade, e neles criando, assim, modesta e sublime simpatia para com todos os seres de quem, como o 'Poverello', se sente irmão.

Creio que a ciência, estabelecendo a inateidade do amor, como a do egoísmo, deu ao homem a posse de si mesmo, os meios de se transformar e de se aperfeiçoar.

Creio que a ciência, a arte, a indústria hão de transformar a Terra em paraíso para todos os homens, sem distinção de raça, crenças, nações – banidos os espectros da guerra, da miséria, da moléstia.

Creio que ao lado das forças egoístas – a serem reduzidas a meios de conservar o indivíduo e a espécie – existem no coração do homem tesouros de amor que a vida em sociedade sublimará cada vez mais.

Creio nas leis da sociologia, fundada por Augusto Comte, e por isso, na incorporação do proletariado e das nações consideradas sem civilização à sociedade moderna – para que possam todos fruir dos benefícios da ciência, da arte, da indústria.

Creio que a missão dos intelectuais é, sobretudo, o preparo das massas humanas desfavorecidas, para que se elevem, para que se possam incorporar à sociedade.

Creio que, sendo às vezes os interesses da ordem incompatíveis com os do progresso, cumpre tudo resolver à luz do amor.

Creio que a ordem material deve ser mantida, sobretudo por causa das mulheres, a melhor parte de todas as pátrias, e das crianças, as pátrias do futuro.

Creio que, no estado de ansiedade atual, a solução é, deixando o pensamento livre como a respiração, promover a 'liga religiosa' – convergindo todos para o amor, o bem comum, postas de lado as divergências que ficarão em cada um como questões de foro íntimo, sem perturbar a esplêndida unidade – que é a verdadeira felicidade.

Cândido Mariano da Silva Rondon
(aluno de Benjamin Constant e formando da Escola Superior de Guerra, participou ativamente do movimento positivista, que articulou, proclamou e consolidou nossa República)

domingo, 24 de janeiro de 2021

Positivismo antes da República

 Trechos extraídos do livro História da Minha Vida
de Cândido Mariano Rondon

"Tive a honra de participar de dois movimentos cívicos que logicamente se encadeiam: a Lei Áurea (libertação dos escravos) e a Proclamação da República.

"Foi o ano de 1888 de intensa preocupação social, reflexo da grande crise que abalara a França.

"Lá, movimento negativo conduzido pela metafísica – fase iniciada em fins do século XIV – oscilava entre a escola filosófica de Voltaire e a escola política de Rousseau, proclamando uma a liberdade, pretendendo outra a igualdade, incapazes ambas de construir.

"Mas no trinômio lendário da Revolução Francesa – 'Liberdade, Igualdade, Fraternidade' – representava esta a parte construtiva, constituindo todo o programa de reorganização social. Sustentada pelos enciclopedistas, como Diderot, Hume, d'Alembert, Condorcet, era defendida por Danton.

"A esta escola se ligaram os ardorosos moços da Escola Militar, orientados pelo tenente-coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, o mestre amado." (pags. 36-37

"Em 1888, enviou o general Manoel Deodoro da Fonseca uma representação à princesa para que não obrigasse o Exército a colaborar na captura dos escravos. Estava assim feita, de fato, a abolição; certos os fugitivos de que ficariam impunes, uma vez que o Exército não mais colaboraria nas batidas para capturá-los. Não tendo a Monarquia mais força para manter a escravidão, a abolição se fez "porque a Nação o quis e assim o quis", disse João Alfredo, o autor da Lei Áurea. A fraqueza da Monarquia não decorreu, pois, da abolição, e sim esta é que proveio daquela.

"Eis um trecho da representação que o general Manoel Deodoro da Fonseca enviou à princesa:

Diante de homens que fogem calmos, sem ruído, mais tranquilamente que o gado que se dispersa pelos campos, evitando tanto a escravidão como a luta, e dando, ao atravessar cidades inermes, exemplo de moralidade cujo esquecimento tem feito muitas vezes a desonra dos exércitos mais civilizados, o Exército Brasileiro espera que o Governo Imperial lhe concederá o que respeitosamente pede, em nome da honra da própria bandeira que defende." (págs. 39-40)

Segue: Credo de um positivista.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Vamos combinar uma coisa!

Por acaso, duas pessoas viajam juntas,
sem terem combinado antes?

Amós 3.3

Então, vamos conversar, pois parece que será longa e difícil essa nossa viajem até o fim deste inverno sócio-político-econômico. O certo é que nada será como antes, com muita chance de ser muito melhor, se caminharmos todos juntos.

A via será sobretudo política, em seu sentido amplo. Muitos gostariam de recomeçar do zero; descartar o que foi conquistado até aqui; e inventar tudo de novo. Mas estes acenam com algo que não chega nem aos pés do que já temos. Quem veio antes de nós, a duras penas, preparou o terreno como pode, armazenou as sementes que conseguiu, bem como outros elementos necessários para uma boa safra. Como cidadãos, cabe-nos neste momento especial fazer o reconhecimento do terreno onde chegamos, avaliarmos o que herdamos, para introduzir as devidas melhorias.

Fala-se muito de nossa Constituição Cidadã, de 1988. Sem dúvida, é incomparavelmente melhor do que todas que tivemos anteriormente; e nenhuma serviu por tanto tempo. Mas esta também não nasceu do nada: seus principais elementos já estavam presentes na primeira constituição republicana, embora, reconheçamos, nunca devidamente observados na chamada República Velha, e só consolidados a partir da conturbada era Vargas, tendo sobrevivido inclusive ao tenebroso regime militar.

Os instruídos que se propoem a nos orientar politicamente costumam utilizar categorias como esquerda, direita, socialismo, comunismo, nazi-fascismo e outras mais, que deixaram profundas marcas em outros países, mas que só de raspão passaram entre nós. É como instruir sobre consumo de combustível falando em galões e milhas; ninguém entende nada. A ideologia que moldou nossas instituições e práticas políticas chama-se mesmo positivismo (!?), cuja versão brasileira acabou sendo batizada de trabalhismo. E não adianta buscar paralelos fora, pois ela vingou mesmo só entre nós, constituindo mais um elemento que faz do Brasil um povo único.

Nossos líderes, políticos e intelectuais, fazem questão de ignorar o positivismo como pano de fundo para entender nossa realidade. Parecem assim meio perdidos, falam em esquerda e direita mas não sabem bem em que direção se localizam no nosso espaço. Enquanto isso, os que não se importam de ocupar o centro vão fazendo a festa.

Mas o povo, a "plebe maldita", conhece essa ideologia muito bem, na prática, pelos seus frutos. Qual o brasileiro que não carrega as marcas, alegres ou dolorosas, das nossas instituições eleitorais, nossas leis trabalhistas, nossos sistemas sindical, educacional, de saúde...? Está em melhores condições no momento de apontar o rumo a seguir. Vamos ouvi-lo.

Combinado?

Comecemos com Cândido Mariano Rondon, um positivista exemplar a vida toda. A seguir.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

ME SEGUE!

Deus armou no céu uma barraca para o sol.
O sol sai dali todo alegre como um noivo,
como um atleta ansioso para entrar numa corrida.

Salmos 19.1-6

Quem não gosta do verão? Dias mais longos, mais quentes; uma chuvinha para refrescar. Mas o que começou a preparar essa maravilha foi mesmo o inverno. Quando ele chegou, as noites eram as mais longas, o maior frio. Foi então que o sol começou a aparecer mais cedo, deitar mais tarde, subir cada vez mais alto. Levou seis meses preparando o que agora está a nos oferecer, passos lentos mas não monótonos: sempre "dois pra lá, dois pra cá..." Muita gente entrou na sua dança: em seu ritmo, preparou o solo, semeou legumes e flores, podou árvores..., amou.

O atual clima sócio-político-econômico, ao contrário, mais parece um inverno iniciando: ainda pouca luz, muita tremedeira, mas também se percebe o ambiente clareando timidamente. Só temos uma certeza: nada será como antes. Como será? O que teremos para colher? A eterna dança do sol já deixou bem claro que vai depender do que aproveitarmos o tempo favorável para plantar, de como o cultivarmos.

Não são poucos os que estão empenhados em plantar a má semente: a discórdia, a mentira, a vingança... Entretanto, o tempo é propício e deve ser aproveitado principalmente para cultivar a boa nova. Pois com certeza não foi sem muita sabedoria que Deus escolheu um lugar, hemisfério Norte, e um momento, início do inverno, para plantar entre nós sua Palavra, a fim de que frutificasse em plena primavera.

Se o clima sócio-político-econômico atual de nossa terra mais parece um inverno iniciando, com todas as possibilidades que ele favorece, a sabedoria aconselha os semeadores da boa semente a também não perder tempo, pois, como já dizia Pero Vaz de Caminha, e nossa História confirma: "querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo.”

...até chegar novamente o verão e serem ouvidas de novo vozes se queixando do calor demasiado. Então o sol, carinhosamente, lentamente, no seu ritmo harmônico, reinicia sua retirada. Pois a terra já estará suficientemente aquecida e embalada para administrar os benefícos recebidos, para prosseguir o baile à distância, até o fim do outono seguinte. Mesmo para superar esse final, no ambiente sócio-político-econômico.

Segue: Vamos combinar uma coisa!

domingo, 3 de janeiro de 2021

Falando o Naturês

 

"O amor que move o sol,
como as estelas"
O verso de Dante
é uma verdade resplandecente,
e curvo-me ante sua magnitude.
Ouso insinuar,
sem pretensão a contribuir
para que se desvende o mistério amoroso:
Amar se aprende amando."

- Carlos Drumond de Andrade

Pois é! Drumond nem ousa com seus versos "contribuir para que se desvende o mistério amoroso", "que move o sol, como as estelas", as coisas criadas, mas apenas "insinuar" . Afinal: "Amar se aprende amando".

Para conhecer o amor, só mesmo entrando na dança do sol, das estrelas, com as águas terrestres, as suaves brisas, os poderosos ventos, os fluidos vitais dos seres vivos... Entendeu? Então leia a postagem anterior: OLHA PRÁ ÁGUA!

Esse é o naturês, a linguagem da natureza, das coisas criadas, da interação, da convivência, do praticar, do fazer, através da qual recebemos e repassamos o saber que está ao alcance de todos os seres vivos, mas é inexprimível nas palavras criadas pelos humanos, estas só conhecidas pelos que nelas foram instruídos.

A Palavra criadora e mantenedora é quem rege a orquestra, quem dá o tom e o ritmo da dança universal do amor. Para curtir a música, como canta Elis Regina, não basta saber que "são dois prá lá, dois pra cá", sem sentir "a tua mão no pescoço, as tuas costas macias... E a ponta de um torturante Band-aid no calcanhar" (Ouça). 

Agora imagine uma pista do tamanho do universo e um minúsculo cantinho chamado Terra lotado de dançarinos "sentindo frio na alma", ouvindo uma infinidade de músicas alternativas em compassos, tons e ritmos desencontrados. Como evitar os encontrões, os pisoes, as cotoveladas...? A própria regente desce então do tablado celeste até o canto da pista a fim de ensinar-lhes a bailar; tranquiliza-os: "são dois prá lá, dois pra cá", enquanto dirige os seus passos, no seu ritmo.

Pois, isso você sabe, dançar/amar também só se ensina dançando/amando, juntos, interagindo.

A seguir, o sol te convida para aprender a dança do amor: ME SEGUE!