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Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?
Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Leis que regem o universo


O DEUS da Criação 10

Continuemos examinando o ensino bíblico na perspectiva da dimensão tácita, de acordo com o pensamento de Michael Polanyi. Para ele o universo seria formado por camadas de realidade agrupadas significativamente em pares de níveis superior e inferior, constituindo uma hierarquia, de modo que os princípios de cada nível operariam sob controle do nível logo acima. Mas é impossível alcançar os princípios organizacionais de nível superior a partir das leis que governam suas partes isoladamente. (The Tacit Dimension, pp 35-36)

A conclusão a que se chega é que estão fora de nosso alcance os princípios organizacionais do último nível das coisas criadas, que vão além das fronteiras do universo físico, ou seja, ultrapassam os limites reconhecidos pelas próprias ciências naturais até onde podem chegar com suas descobertas. Neste ponto é que entra a contribuição da teologia, com a atuação do Logos e da Sabedoria. Esta, por exemplo, fala de si em Provérbios 8.23-30:
Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio,
antes do começo da terra... então, eu estava com ele
e era seu arquiteto...”
Se a considerarmos então como possuidora dos princípios últimos que regem a criação como um todo, o Elogio da Sabedoria no capítulo 28 de Jó parece afirmar a mesma coisa que Polanyi; em resumo:
Donde, pois, vem a sabedoria,
e onde está o lugar do entendimento?
Está encoberta aos olhos de todo vivente
e oculta às aves do céu
.” (Jó 28.20,21)
Tiago nos mostra o caminho, em sua carta:
E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus,
que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.
(Tiago 1.5)
Sendo Deus um ser vivo como nós, muito mais do que um simples elemento que as ciências procuram mas não acham, ele interage conosco, nos procura e nos ensina suas leis, que podemos aprender de acordo com nossas limitações, assim como ensinamos nossas leis aos animais, que estão abaixo de nós na escala evolutiva, e eles aprendem, evidentemente também dentro de suas limitações.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A dimensão tácita


O DEUS da Criação 09
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder,
 como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem,
desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas.

Romanos 1.20
Seria o conhecimento tácito apenas uma forma a mais de saber, ao lado do científico e do teológico? Michael Polanyi, um cientista que dedicou desde cedo toda sua longa vida a observar as coisas criadas e produziu respeitadíssimos trabalhos nos campos da física, ciências sociais e economia e enveredou pela filosofia, pensa diferente. Para ele, “o pensamento tácito forma uma parte indispensável de todo conhecimento”. Suas ideias inovadoras a respeito encontram-se no livro The Tacit Dimension, publicado em 1966.
Parte do fato já sabido desde a antiguidade, de que “podemos saber mais do que podemos dizer” (we can know more than we can tell), o que não implica que não possamos pôr em prática ou transmitir de alguma forma além do que em simples palavras; isto é, só mesmo praticando, executando. O termo mais apropriado seria interagindo, no caso de coisas inanimadas, e convivendo, tratando-se de seres vivos, animais ou humanos, pessoas, nossos semelhantes. Consequentemente, como simples crentes ou teólogos, poderíamos concluir ser verdade também com relação àquele mediante cuja imagem e semelhança fomos criados: não haveria outro meio de conhecer ou apresentar adequadamente a Deus a não ser pela vivência. De modo que a bíblia deve ser examinada como uma coletânea de testemunhos a respeito dessa convivência, mas muitos a tomam equivocadamente como um simples discurso pouco fundamentando sobre a divindade sem muito valor científico.
Este fato nos leva muitas vezes a questionar o que outros pregam a respeito do criador que não está de acordo com nossa própria experiência. Foi o caso de Jó, que confrontou as palavras dos sábios porque contradiziam o que via com seus próprios olhos e sentia em seu próprio corpo. Certamente seria também o caso das crianças e pessoas sem instrução, que ignoram na prática a opinião dos sábios e instruídos, por confiarem mais na própria vivência do que em palavras ocas, principalmente quando estes negam seus complicados argumentos com os frutos que produzem.
É impressionante o quão perto pode chegar do ensino bíblico um cientista que perscruta as coisas criadas com o propósito de aprender e não de simplesmente tirar proveito delas. Confirmam-se as palavras do apóstolo. É o que continuaremos examinando.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Sabedoria e ciência

O DEUS da Criação 08
Enganosa é a palavra das criaturas humanas, que é capaz de confessar com a boca e negar com suas ações. Deus faz falando e fala fazendo, para ele falar e fazer são a mesma coisa, o que acontece é exatamente o que ele fala. Se podemos alcançar a verdade sobre uma pessoa pelos seus feitos, com muito mais razão nos será dado ver o próprio criador.
Uma maneira segura de superar as armadilhas da linguagem humana é observar a divindade em ação na natureza, que é viva e sábia, pois executa com perfeição as ordenanças divinas. A condição para que isso ocorra é que o observemos com o desejo sincero de inteirar-se de como ele faz e do que compete a nós fazermos, com o firme propósito de integrar nossas próprias ações nessa obra única e perfeita, a Criação, seguindo a orientação de Tiago:
se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus,
e ele a dará porque é generoso e dá com bondade a todos.
Porém peçam com fé e não duvidem de modo nenhum,
pois quem duvida é como as ondas do mar,
que o vento leva de um lado para o outro.
...pois não tem firmeza e nunca sabe o que deve fazer.

Tiago 1:5-8
Um bom caminho é imitar o exemplo de Jó: ser sincero, apresentar ao Eterno as dúvidas que de fato procedam de nosso coração, sem receios e sem querer agradá-lo com perguntas que achamos ele gostaria de ouvir. Não esperemos conhecer assim os grandes mistérios da Criação, muito menos de seu criador, mas o suficiente para procedermos bem em nosso dia-a-dia.
As ciências naturais podem nos ajudar nisso, mas enquanto seu propósito se limitar a descobrir as leis que regem a natureza para dominá-las, com o simples propósito de tirar proveito, continuará impotente diante de problemas como o da fome e das guerras.
Von Rad já dizia há 50 anos, meio século passado, sobre a Sabedoria em Israel:
O que o sábio exemplar desejava alcançar não era a razão da ciência moderna, que impõe suas leis e dispõe soberanamente da matéria morta da natureza, mas uma razão compreensiva, uma intuição da verdade que provém do mundo e questiona o homem.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

A história de Antônio


Deus da criação 7

Antônio não havia estudado música, mas tirava um sonzinho legal de sua viola. Dava até uma de compositor e poeta:
O perigo está aqui. O perigo está acola.
O perigo onde anda ninguém pode imagina
r.”
Prestava serviço nos sítios da região onde morava. Tinha muitas outras habilidades; entre elas, a de exímio pedreiro. Mesmo sem ter sido alfabetizado, calculava de cabeça e informava a quantidade de tijolos, areia e cimento que seria necessário para levantar e emboçar determinada parede antes mesmo que o patrão concluísse suas contas no papel. Entusiasmados, seus amigos aconselhavam:
- Você precisa frequentar a escola, Antônio!
Ele foi.
Passado um tempo, soube-se que abandonara as aulas.
- Por que, Antônio?
- Não entendia as contas do papel e estava esquecendo as das ideias!
Antônio possuía um conhecimento tácito sobre cálculos, que é pessoal e impossível de explicitar em palavras ou símbolos, traduzir em teorias - por isso só se adquire e se demonstra na prática; diferente daquele que nos ensinaram na escola por meio de discursos e de textos.
Este tipo de conhecimento está muito mais presente no cotidiano das pessoas do que conseguimos perceber. É mais notável entre as crianças que, mesmo antes de conhecer as palavras, faladas, escritas, ou qualquer símbolo com significado, aprendem uma infinidade de procedimentos, os mais complicados e a maioria dos que lhe servirão por toda a vida. É também como se adquire as habilidades indispensáveis no exercício das profissões.
Entretanto, por mais importante que seja, o conhecimento adquirido por meio das teorias ou _logias, é um processo bem mais cansativo e requer muito estudo prévio, além de sujeito a equívocos. Não está ao alcance de crianças, sendo muito pouco compreendido pelas pessoas com pouca instrução. Quais as consequências disso para nossa fé, nossas teologias e para o logos divino? É o desafio que esta série de postagens pretende propor aos seus leitores, crentes simples ou teólogos.
Segue: Sabedoria e ciência