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Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?
Quanto a essa plebe, que nada sabe da lei, é maldita... (João 7.48-49)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A ciência e as pessoas comuns, nós.


O DEUS da Criação 23

Mas eu também entendo as coisas
e não sou menos do que vocês.

Jó 12.3
De que maneira a atividade científica afeta a vida das pessoas comuns.
Uma teoria científica serve primeiramente para outros cientistas que trabalham na mesma área elaborarem outras teorias. Os demais colegas e simples mortais podem tirar proveito quando elas se aplicam a atividades que praticam no seu dia a dia, relacionadas com a família, o trabalho, todas elas. Funciona como um mapa de um trajeto que você costuma percorrer com regularidade e que pode lhe ajudar a encontrar algum atalho, um trecho com pavimentação melhor, menos curvas, melhor iluminado, etc. Acontece que esses mapas não costumam ser muito precisos e você pode chegar a conclusão de que não lhe é de muita serventia e preferir percorrer seu caminho habitual; valeu seu conhecimento tácito. Mas pode também se surpreender e encontrar melhorias que nem constavam da teoria original; você introduz tacitamente melhorias na teoria e amplia seu conhecimento, que continua tácito, fundamentado na interação. O problema é que esses mapas geralmente circulam apenas entre especialistas, numa linguagem que só eles entendem. Quando encontrados em linguagem de simples mortais é sinal de que alguém tem interesse que você trilhe por ele, pode não contar toda verdade: desconfie.
Mas os impactos das descobertas científicas são muito mais amplas e profundas. Para ter uma vaga ideia, pensemos na verdadeira avalanche de produtos elétricos e eletrônicos que invadiram nossas vidas nesta última geração. Ainda não entendemos bem o que os faz funcionar, mas aprendemos tacitamente a nos servir deles. As coisas se tornam bem mais complexas quando aplicadas à economia, ao trabalho, à governança, à justiça, à educação... onde muito pouco espaço sobra para tomarmos nossas próprias decisões.
O fato é que o problema do impacto das ciências sobre a vida da totalidade das pessoas está ainda longe de ser resolvido. Já passou o tempo, embora muitos ainda não tenham percebido, quando a humanidade quase toda apostava nas suas descobertas; hoje os da área são bem mais cautelosos e, fazendo coro com os sábios de todos os tempos, chamam a atenção para as limitações e provisoriedade do conhecimento humano. Esta humildade nos autoriza a afirmar ser bem possível que daqui a algum tempo se poderá chegar à conclusão de que os métodos científicos de nossos dias não teriam passado de um grande equívoco, embora com algumas ressalvas, principalmente levando em conta que só mui recentemente se começou a dar a devida atenção à importância do conhecimento tácito.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Teologias, ciências e doenças.


O DEUS da Criação 22

- Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes.
Mateus 9.12
Para termos uma ideia do que acontece com as ciências e as teologias, que também não são poucas, tomemos um exemplo muito usado pelos teóricos do conhecimento. O problema das doenças.
É também muito comum entre esses teóricos e as pessoas em geral a afirmação de que “todo problema tem solução; se não tem solução, não tem um problema”. Tanto os cientistas quanto médicos e os pouco instruídos consideram que toda enfermidade é um problema que, com certeza, tem solução. O primeiro passo é observar os sinais que ela transmite na linguagem das coisas criadas; seus sintomas, no caso. O segundo passo é considerar esses sintomas em conjunto e chegar a um diagnóstico; na maioria das vezes basta a experiência do próprio enfermo ou de seus familiares para conduzir o processo até esta altura; outras vezes até os médicos necessitam da ajuda de certas conquista das ciências, como imagens (raios X, ultrassom, etc.), exames de laboratório ou até uma biópsia. Tudo conduz para a ação, o terceiro passo, a terapia, no que as descobertas científicas também contribuem muito. Mas não precisa ser cientista para saber disso, basta ser sábio, inteligente, usar a cabeça.
Por outro lado, o mundo todo está se matando, literalmente, para produzir dinheiro, como se houvesse falta do vil metal em escala global. Entretanto, os sinais, os sintomas dessa suposta enfermidade social, apontam em outra direção, basta para percebê-lo estar minimamente informado e prestar atenção ao que acontece a nossa volta. Se fosse assim, não estariam todo dia tentando de todas as maneiras nos enfiar um empréstimo goela abaixo, ou nos endividar de algum modo, vendendo a prazo, por exemplo. A falta de dinheiro no mundo é um falso problema, ele não existe. Sendo assim, não tem solução, nem adianta correr atrás. Os sinais que o mundo nos envia aos prantos, os dolorosos sintomas, apontam para uma doença ainda mais grave: a perversa má distribuição do que existe. Este sim é um problema de verdade, e tem solução, sem dúvida nenhuma.
Esses dois exemplos ilustram de maneira muito acanhada como nosso mundo poderia ser diferente se os cientistas e teólogos se pusessem a serviço do verdadeiro conhecimento, perceptível até pelo mais comum dos seres humanos, mas para o qual a própria instrução de muitos os torna cegos.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

História de um divórcio


O DEUS da Criação 21


Examinemos um pouco mais de perto como a prática dos sábios antigos – investigando em todos os campos do conhecimento humano, que na época não passava de um único conglomerado permanentemente integrado enriquecendo-se como apenas um – resultou nesse divórcio tão radical entre ciência e teologia que testemunhamos em nossos dias.
Eles consideravam que a divindade fazia-se conhecer não apenas na história de Israel, mas também e ao mesmo tempo por meio das coisas que foram criadas, visão que não se restringia aos responsáveis pelos livros bíblicos de sabedoria, pois bem mais tarde o apóstolo Paulo não teve muita dificuldade em justificar baseado nela sua missão entre os gentios. É o que se pensava entre os judeus.
Mas nessa época o império romano já conquistara quase todo o mundo antigo e continuava se expandindo. A igreja que iniciava sua missão acabou se estendendo por todo seu território e até para além de suas fronteiras. Esses dois fatores propiciaram a integração e o intercâmbio entre todos os povos que ocupavam esse enorme espaço. Inclusive quanto ao que se referia ao conhecimento em todas suas áreas, que já começavam a se especializar e adquirir características próprias. Embora houvesse grande cooperação entre elas, não faltavam conflitos, principalmente em matérias comuns. Toda essa atividade se dava sob a designação geral de filosofia, mesmo a própria teologia. A que derivou para o que chamamos hoje de ciências era conhecida como filosofia natural.
O divórcio, entre todas elas, se configuraria pouco a pouco a partir da chamada Idade Nova, do início do século quatorze a meados do dezessete. A divergência não estava relacionada necessariamente com o que conhecer, mas basicamente sobre o objetivo, o método e o alcance da investigação. O que fez muita diferença.
Deixando as questões relacionadas à divindade por conta das teologias, as ciências dedicaram-se a descobrir como manipular as coisas que foram criadas, vivas ou inanimadas. Os teólogos, por seu lado, voltaram-se de preferência para o domínio das ideias, à semelhança do que sobrou para as filosofias, e também, com muita propriedade, para as Escrituras, abandonando em parte as coisas que foram criadas como fonte de conhecimento dos atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade. Ficariam assim de certo modo desamparados teologicamente os crentes pouco familiarizados com o mundo das letras, entre os quais se contam os analfabetos, mas também muitos poderosos deste mundo e até das igrejas.