Discute-se amplamente hoje
a relação política e religião. O sentimento geral é de que não devemos
misturá-las, bem como com referência à relação desta com a economia. Os que
atuam nessas áreas têm concepções distintas, ou nenhuma, sobre religião, o que
dificulta grandemente o diálogo. Adotemos a que parece mais difundida entre as
pessoas comuns e procede da etimologia do termo que a designa: religião =
religação. Seria o esforço do homem em recuperar a harmonia perdida entre seu
comportamento e a ação sábia e amorosa de Deus na criação e na manutenção do
que existe, do que vive.
Temos de reconhecer que a
maioria das práticas dos que se dizem religiosos, em todos os tempos, não condizem
com essa concepção. Seus princípios são inventados ou distorcidos para servir a
interesses individuais e de grupos, sejam políticos, econômicos ou de qualquer
natureza. Mesmo instituições consideradas religiosas chegam a comportar-se como
verdadeiros partidos na busca de espaço político; ou como empresas comerciais
que se orientam pelas perversas leis chamadas de mercado.
Seus seguidores também não esperam
que elas os ajudem a recuperar a harmonia de seu comportamento com a ação de
Deus, de modo que não fazem jus à denominação de crentes e muito menos de fiéis.
Buscam nelas as soluções e os benefícios que não lhes são oferecidos pelo
estado, na pessoa dos políticos, nem são encontrados para serem comprados no
mercado. Mas a relação com elas é semelhante, de súditos, de militantes ou de consumidores.
Mesmo a história do
cristianismo está repleta de exemplos horríveis desse tipo de comportamento,
mas não podemos ignorar também a importante contribuição de organizações e
pessoas cristãs, ancoradas em sua fé, para a preservação e o aperfeiçoamento
da democracia, promoção e defesa dos direitos da pessoa humana, bem como na proposição e incentivo a práticas econômicas mais
justas e includentes. O mesmo acontece com o Islã; devido à flexibilidade de
sua doutrina, sua história está repleta de atrocidades praticadas em seu nome,
mas também de formidáveis regimes pluralistas que inspirou, também protetores
da diversidade e do intercâmbio em várias áreas.