Perfil de um homem sábio

JÓ de Uz – 22

                          

        Jó 29

Ah! pudesse eu voltar
tempo atrás, já desde o dia
– em que, com o Seu poder –
o Senhor me protegia!

Nesse tempo o Deus Eterno,
meu caminho, iluminava;
com Sua luz, na escuridão,
eu, seguro, bem andava!

Nesses dias, eu estava
bem de vida e a amizade
do Senhor bem protegia
o meu lar e minha herdade!

Deus-Poder, comigo, estava,
com meus filhos ao redor.
Lá em casa sempre havia
muito leite – e do melhor –

e azeite de oliva,
de oliveira natural.
Toda vez que eu saía
à reunião do tribunal,

com juízes, me assentando,
moços viam-me e até
entre eles eu passava,
velhos punham-se de pé!

As pessoas – as mais nobres –
já paravam de falar
e ficavam em silêncio!
Também vinham se calar

todas as autoridades
– nada tinham a dizer!
Quem me ouvia, pois, falar
me podiam bendizer

e me davam parabéns,
pois, aos pobres, ajudava,
que pediam minha ajuda;
e, dos órfãos, eu cuidava,

pois não tinham proteção.
Sim, me vinham abençoar
os que estavam na miséria;
também vinham se alegrar

as viúvas, com o auxílio.
Eram parte, sim, de mim
a justiça e honestidade,
como roupas que, enfim,

uso todos os meus dias.
Era os pés para aleijados
e os olhos para os cegos.
Era o pai dos desgraçados,

defensor dos estrangeiros.
Acabava co’o poder
de opressores e livrava
suas vítimas de ser

exploradas por suas garras.
Eu pensava sempre assim:
“Longa vida, vou viver
e morrer em casa, enfim,

tendo todo meu conforto.
Como árvore, serei,
de raízes ’té a água:
 Toda noite eu terei

o orvalho a me molhar.
Todos, só bem, falarão
sobre mim; e eu serei
vigoroso, forte, então.”

Todas as pessoas, sim,
a mim davam atenção
e em silêncio escutavam
meus conselhos co’ afeição.

Terminando de falar,
não, ninguém me contestava.
Cada uma das palavras,
na cabeça, lhes entrava

como gotas na areia!
E esperavam com fervor
tais palavras como, à chuva,
se espera no calor.

Aos que tinham já perdido
a esperança, eu sorria;
e, coragem mais lhes dava,
o meu rosto de alegria!

Era eu igual a chefe
– o que vinha decidir
quê deviam já fazer –;
eu os vinha dirigir

como, à frente de um exército,
faz um rei: As ordens, dava;
e, nas horas de aflição,
eu também os consolava.

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