No primeiro dia, Deus disse haja luz,
e houve luz; no segundo, haja firmamento, e houve firmamento; no
terceiro, ajuntem-se as águas debaixo do céu num só lugar, e assim se
fez; no quarto, haja luzeiros no firmamento dos céus, e assim se fez; no
quinto, povoem-se as águas de enxames de seres vivente; e voem as aves sobre
a terra, e foi o que aconteceu; no sexto, produza a terra seres viventes,
e assim se fez.
Ainda no sexto dia, também disse façamos
o homem... Façamos?! Quem façamos? Deus não estava só? Muita especulação já
se fez e certamente se fará sobre o sujeito plural desse verbo. Muitos não veem
mais que um recurso literário. Outros afirmam que o criador se referia às
demais pessoas da trindade. Mas podemos igualmente imaginar que estivesse na
companhia dos personagens que povoariam os demais relatos bíblicos e cujo
surgimento não consta deste da criação, como anjos e espíritos bons e maus,
demônios, filhos de Deus e muitos outros, aos quais pouco tempo depois se
juntaria o primeiro fantasma, de Abel, que viria a ser seguido por outros
e hoje já são incontáveis. Povos não cristãos acrescentariam ainda diferentes
deuses, heróis, semideuses, musas, orixás e mais.
Muitos séculos depois, o homem disse haja
a ciência, e houve a ciência. E, como Deus fizera com relação a tudo que
criara, também o homem viu que a ciência era boa. Ela prometia revelar todas as
leis que regem o funcionamento das coisas criadas, poderia controlá-las e até
manipulá-las, no bom e no mau sentido. Mas havia um problema, estaria
definitivamente fora de seu alcance os feitos protagonizados pelos seres que
teriam testemunhado a criação, inclusive as intensas intervenções que nela
executam continuamente. Eles foram então declarados inexistentes, irreais. E,
como os estudiosos costumavam chamar de mitos os relatos sobre esses fatos, o
termo passou a ser tratado como sinônimo de mentira.
O fato é que, sem eles, nem mesmo
ciência existiria. Pois é historicamente incontestável que esta resultou do
dinamismo por eles desencadeado nas pessoas e entre elas, aguçando seus temores
e desejos, sua curiosidade, imaginação e inventividade, durante milênios. É a
filha caçula de uma experiente senhora que ainda tem muito a ensinar.
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