No próximo domingo, dia 23, algumas igrejas cristãs celebrarão Pentecostes. De certo, mais uma vez se pregará sobre dons de línguas e unidade dos cristãos. Mas outros fatos importantes ocorreram por ocasião do evento. Muito esquecido ou mal explicado, embora de uma atualidade gritante, foi o que provocaria em quem se converteu após a pregação de Pedro:
Todos
os que creram estavam juntos
e tinham tudo em comum.
Vendiam as
suas propriedades e bens,
distribuindo o produto entre todos,
à
medida que alguém tinha necessidade.
Atos
2.44-45
O mesmo aconteceria ao cinco mil que aceitaram a mensagem do mesmo apóstolo pouco mais tarde, após a cura de um aleijado no templo:
Da
multidão dos que creram era um o coração e a alma.
Ninguém
considerava exclusivamente sua
nem uma das coisas que possuía;
tudo,
porém, lhes era comum...
Pois nenhum necessitado havia entre
eles,
porquanto os que possuíam terras ou casas,
vendendo-as, traziam os valores correspondentes
e depositavam aos pés dos
apóstolos;
então, se distribuía a qualquer um
à medida que alguém
tinha necessidade.
Atos
4.32-35
Os historiadores da Igreja Cristã nem sempre deram importância a essa prática; considerando no máximo um engano mal sucedido, circunscrito à comunidade primitiva de Jerusalém. Talvez tenham valorizado excessivamente as disputas teológicas e de poder nas quais ela se envolveria interna e externamente.
Entretanto, no mínimo meio século mais tarde, um grupo da segunda geração de convertidos viria chamar a atenção de um historiador não cristão que vivera na Síria e Egito, Luciano de Samósata:
“Desde que mudaram de culto, renunciaram aos deuses gregos e adoram o sofista crucificado de quem seguem as leis. Desprezam igualmente todos os bens e põem-nos em comum, pela fé completa que têm nas suas palavras.”
Já Tertuliano, jurista e teólogo cristão da terceira geração que viveu em Cartago, cidade mais próspera na costa do mar Mediterrâneo, na atual Tunísia, norte da África, testemunharia:
“...somos irmãos na nossa propriedade familiar com a qual a maior parte das vezes se dissolve a irmandade. Nós, portanto, que estamos unidos de alma e espírito, não temos dúvidas em ter bens em comum...”
Reveladora é uma carta de Mensurius, bispo de Cartago, a Secundus, bispo de Tigrisi, durante a perseguição sob Diocleciano, já no início do quarto século, em que declara ter proibido que alguém fosse homenageado como mártir que se entregara por vontade própria. Diz ele:
“alguns deles eram criminosos e devedores do Estado, que achavam que poderiam, com isso, se livrar de uma vida onerosa, ou então apagar a lembrança de seus delitos, ou pelo menos ganhar dinheiro e gozar na prisão os luxos supridos pela bondade dos cristãos.”
Gozar na prisão os “luxos” supridos pela bondade dos cristãos, para se livrar de' “Uma vida onerosa!“ A seguir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário