Olha essa história de
Han Feizi, encontrada no livro Fábulas Chinesas, organizado e
traduzido por Sérgio Capparelli e Márcia Schmaltz, editora
L&PMPocket.
Um
homem do reino de Zheng decidiu comprar um par de sapatos. Pegou a
fita métrica, mediu seu pé direito e depois seu pé esquerdo. Ao
sair, esqueceu a fita e as anotações sobre a cadeira. Mais tarde,
quando encontrou os sapatos que queria, deu-se conta do esquecimento
e suspirou desanimado:
-
Puxa, eu me esqueci de trazer as medidas!
Voltou
correndo para casa, a fim de buscá-las.
Ao
retornar ao mercado, a feira tinha acabado e não havia mais nada
aberto, e ele ficou muito triste porque não pode comprar os sapatos.
-
Por que não experimentou os sapatos? - alguém lhe perguntou.
Esse homem até parece
os escribas e fariseus que, para desqualificar Jesus, alegavam que
ele comia com os pecadores, não lavava as mãos antes das refeições,
curava no sábado, blasfemava ao se dizer filho de Deus, etc. Eu,
Plebe Maldita, que não entendo de números nem de letras, mas que
andava com ele, ao contrário, estava muito satisfeita, pois não me
machucava, me protegia e fazia da caminhada um prazer.
Se parece também com os
comentaristas políticos e econômicos que, ano passado, para provar
que o sapato oferecido pelo governo não servia para Brasil, nos
inundavam de gráficos e números sem conta: alta do dólar, queda
da bolsa, taxa de juros, crescimento da inflação, retração do
pib, etc. etc. As pessoas, entretanto, através das pesquisas de
opinião, demonstravam pouco interesse em números e gráficos e que
estavam satisfeitas com o sapato que usavam, o que confirmaram nas
urnas.
Entretanto, mal começou
2015 e o sapato começou a machucar de verdade. Os que nos inundavam
com números, agora bombardeiam o governo com conselhos, para que
consiga se sustentar, tais como: dizer isso ou aquilo, se afastar do
fulano, aproximar-se do beltrano, agradar a esse, desprezar aquele...
Eu, Plebe Maldita, acho apenas que o povo, que vai para as ruas e o
que não vai mas vota, garantirá vida longa ao governo que lhe
costurar um calçado que não machuque, que o proteja e torne
agradável a caminhada, independentemente do que disserem os que
entendem de fita métrica, letras, números e gráficos, e que pouco
sabem de vida, alegria e felicidade.
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